Andando por aí (13) – por Margarida Ruivaco

 

 

Foto de Margarida Ruivaco

 

 

Centum Cellas é daqueles sítios que me faz pensar que não devemos estar a ver as coisas como elas são.

 

Localizada em Colmeal da Torre (Belmonte), uma povoação no fim do mundo, isto é o que resta de um imponente edifício da época romana, no século I, que talvez tenha sido uma villa de cem quartos, uma prisão de cem celas, um forte, ou uma torre de vigia.

 

Se Lúcio Cecílio, seu eventual dono, viesse hoje ao mundo, ou se nos espreita de um outro universo, deve dar voltas e voltas de agonia.

 

Classificado como monumento nacional, encontra-se ao “Deus dará”, bem ao estilo da tutela, que é como um cão que havia lá em casa, que não comia, mas também não deixava os outros tocar na ração. Mais um, de tantos.

 

Protegido por uma rede rota e um portão aberto, é mais um local que podia servir de polo dinamizador de uma região tão esquecida, mas que se limita a permanecer hirto, enrijado  pelos ares frios da serra.

 

 

Por outro lado, se na antiguidade tantos povos se fixaram por aqui, se aqui passavam as principais estradas da península, se foi zona de grande comércio, agricultura, pecuária e extracção mineira durante séculos, e se foi abrigo de tantas comunidades e nova pátria dos judeus, e se daqui partiu Pedro Álvares Cabral, o que é que nos está a faltar para voltar a encher de vida esta região de Portugal?

 

 

Paisagem, não falta. Terrenos também não. Estradas, caras bem sei, também já existem. Boa gastronomia e bem receber, são naturais.

 

 

O que é que tantos viram, que a luz do desenvolvimento nos cega e não nos deixa ver?

 

 

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