Marinha/Murano
Impensável a origem
do vidro
sua massa
aderindo ao ferro
do vidreiro.
Não se imagina
o fogo, os fornos
temperados
a súbita viagem
para o molde
disponível.
Mas que dizer
do sopro magoado
do artífice,
seu ventre dilatado
na explosão reprimida
à superfície?
Impensáveis os ofícios
de vidrar;
a sílica em fusão
no ácido ou vícios
de cortar.
O esmeril corrompe
a intenção,
lapida-lhe o cristal
à flor do vidro
e não fere fundo
o nervo, a coesão
amarga de raízes
e moldes
sem motivo.
E o vidro fica então
impune e vasto
entre a mão
afeiçoada
e o esmeril de não cumprir
já gasto.
(em Crónica Segunda)
Republicou isto em A Viagem dos Argonautas.