Globalização e Desindustrialização – 4ª Série

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

 

Capitulo III.  Alguns retratos mais sobre a globalização, sobre a desindustrialização

 

 

11. 7º céu está baixo em em Bitterfeld-Wolfen 

 

 

 

 

 

 

O céu está baixo, em Bitterfeld-Wolfen, nesta quinta-feira de Abril. Os milhares de painéis fotovoltaicos estão instalados num antigo local industrial a algumas centenas de metros da estação, e continuam desesperadamente baços.

 

 

No vale da indústria solar, “Valley of the Sun”, o primeiro polo de competências alemão dedicado à indústria fotovoltaica, no coração da antiga Alemanha Oriental, muitos se interrogam sobre se o verão irá voltar algum um dia.

 

 

Q – cells, um dos pioneiros do sector neste sítio está, desde o início de Abril, em liquidação judicial. Na Alemanha e no mundo, toda a indústria solar está em crise.

 

 

Em Bitterfeld-Wolfen, a falência da Q-Cells é fortemente significativa. Nesta cidade de longa tradição industrial, devastada pela reunificação e pelo desemprego, a chegada da energia fotovoltaica, limpa e moderna, tinha representado uma verdadeira redenção.

 

 

Porque o nome “Bitterfeld” se pronunciava desde há muito na Alemanha com tristeza ou ironia: este campo “amargo” era considerado como o sítio  mais poluído da Europa, depois de que, durante anos, aqui dezenas e dezenas  de toneladas de resíduos químicos foram atirados para o meio ambiente pelo grande complexo industrial da química alemã.

 

 

CONCORRÊNCIA CHINESA

 

“Quando eu era criança, chovia aqui muita cinza, a neve era cinzenta, não se tinha o direito de a comer”, conta o taxista durante os 20 quilómetros que separa a estação de comboio do  vale da indústria solar.

 

150 Hectares de área estão fechados por uma grade de segurança, como para marcar a diferença entre a antiga e a nova indústria. No seu interior, os edifícios são ultramodernos, entradas em vidro, parques de estacionamento impecável.

 

 

A indústria solar criou, em dez anos, 4 000 postos de trabalho em Bitterfeld. Esta indústria encheu os laboratórios com cientistas, não só na região, no estado da Saxônia-Anhalt, mas também em Thuringia e Saxônia, em todos os Länder da Alemanha de Leste, que têm os seus “Solar Valley”.

 

 

Depois de dez anos de euforia, a crise solar surpreendeu a indústria como um duche de água bem fria. Quatro empresas alemãs do sector apresentaram o pedido de declaração de falência nos últimos meses e a americana First Solar acaba de anunciar que vai em breve encerrar a sua fábrica de Frankfurt-Oder, na fronteira polaca.

 

 

Em Bitterfeld, a ansiedade é bem palpável. “No ano passado, tivemos uma queda nos preços na 50% a 60% no mercado interno, toda a gente está a vender com prejuízo, até mesmo os chineses,” diz-nos com tristeza um industrial. “Todos aqui têm medo de perder o seu emprego, o seu posto de trabalho”, diz um membro do sindicato IGBCE.

 

 

O solar está condenado, vítima da concorrência chinesa e das reduções de subsídios? “A indústria solar alemã vai evoluir, vai-se reestruturar mas não vai desaparecer,” estima Jutta Günther, investigador do Instituto económico de Halle. “A Alemanha tem muitos laboratórios especializados, o seu avanço tecnológico está ai.”

 

 

Reiner Beutel, Presidente executivo de Sovello, antiga filial da Q-Cells e que é agora uma empresa independentes, também localizada em Bitterfeld-Wolfen, aposta na inovação. A sua empresa desenvolveu um sistema de painéis solares que permitem poupar 50% de silício e 50% de electricidade.

 

 

Nas salas de produção da empresa, automatizadas, apenas alguns funcionários controlam os movimentos de robôs. “Aqui, até ao final do ano, nós iremos alcançar os chineses em termos de custos de produção, queremos aumentar a nossa capacidade de produção em cerca de metade até 2013″, explica. Os seus efectivos são de (1 250 pessoas) e estas permanecerão estáveis.

 

 

INFATIGÁVEIS OPTIMISTAS

 

Por muito dura que seja a crise, Bitterfeld-Wolfen, que renovou o seu site industrial químico, já viu outras crises. A cidade tem seus incansáveis optimistas. Manfred Kressin é um deles. Este eleito local é o “pai” do Vale do Sol, o inventor do nome. Infatigável, este eleito conta-nos como é que foi capaz de convencer Q-Cells, em 1999, a estabelecer-se no seu círculo eleitoral, em vez de ser em Berlim. Explica-nos também como desenvolveu clubes de futebol para as crianças para assim manter os trabalhadores qualificados no seu município.

 

 

“O Vale do Sol  irá sem dúvida irá sofrer, acredita ele.” Mas aqueles que foram embora são trabalhadores qualificados, os 800 trabalhadores que tiveram que deixar Q-Cells encontraram todos eles emprego, no ano passado. “Eles estão na Porsche, na BMW, em Leipzig ou na Bayer em Bitterfeld.”

 

 

Cécile Boutelet

Leave a Reply