As primeiras que vi, há cerca de vinte anos, deixaram-me de boa aberta.
Depois de hectares de oliveiras, hectares de laranjeiras, hectares de girassol, atravessámos centenas de “ventoinhas”, num planalto do sul de Espanha, e achei-as lindas.
Há uns anos, passei a vê-las da janela do meu quarto, no alto das Serras de Aire e Candeeiros, junto ao mar da Nazaré, ao longo da A8, ou tantos outros locais, e ainda que possa concordar com dezenas de argumentos contra, para mim continuam encantadoras. Por admirar, por perceber, ficam os custos associados, mas isso já é outra conversa.
Quando começaram a construí-las, passavam aqui na estrada camiões e atrelados, que cortavam o trânsito, num desfile que podia demorar horas. As pessoas paravam, a admirar gigantescas partes brancas, peças de um estranho puzzle. Semana após semana, a serra foi sendo plantada com estas estranhas árvores, que à noite se fazem notar com cintilantes luzes vermelhas.
Às vezes penso em Don Quijote, e imagino que as pudesse perseguir e pelejar pela sua amada, perante tais gigantes de três braços. Imagino-o a cavalgar pelos cumes, no seu cavalo, escanzelados, enlouquecido pelo som do vento nas hélices, chamando por Dulcineia. E chegado ao Golgota das serras, aí gritaria “ Vitória!”, após desfazer três ou quatro, a golpes de espaça e lança
Há, no entanto, uns aerogeradores que me parecem mágicos. Requerem um dia de chuva miudinha e nevoeiro. Seguindo de manhãzinha, no IC2, de norte para sul, logo após a localidade de Venda das Raparigas, se o nevoeiro estiver bem baixinho, iremos dar com uma hélice que parece girar, suspensa das nuvens, ao nosso lado esquerdo. É uma imagem fabulosa a que já tive oportunidade de assistir algumas vezes, e é de cortar a respiração.
Ainda assim, continuam a fascinar-me e a arrancar-me sorrisos sinceros, e a encher-me o coração de serenidade, só de olhar para o seu movimento.
Foto de Margarida Ruivaco