A história do Ara Pacis em Roma e as suas vicissitudes é longa . Neste momento está coberto por um edifício todo em vidro, de autoria do arquitecto Richard Meier. Por já aqui ter reflectido sosbre algumas questões de aquitectura e urbanismo, sinto vontade de sobre isto falar.
Ara Pacis é um altar romano de a.c., feito por Augustus para comemorar as vitórias na Gália e em Espanha e dedicado à deusa Pax. Pretendia simbolizar o período de paz e prosperidade vivido durante a paz romana. No seu friso o imperador aparece numa procissão com sacerdotes e membros de família. O altar foi colocado no Campus Martius, que terá sido destruído quando Roma caiu nas mãos dos bárbaros. No último século, partes dele foram guardas em museus de Florença e Roma mas novas peças foram encontradas em escavações recentes. Mussolini ordenou a sua reconstrução, colocando-o no edifício Vittorio Ballio Morpurgo, numa tentativa de ligar a sua imagem à da história antiga de Roma e do seu poder.
Sobre a obra Meier disse: “Existe aqui uma luz que não é habitual noutros museus. A partir deste edifício pode ver-se a cidade de uma outra forma. A cidade torna-se viva a partir da experiência de estar aqui”. E ainda : “Eu queria dar-lhe um destino público, um espaço de praça nova em Roma que as pessoas pudessem vir até apenas para se sentarem ao sol – é o que os romanos gostam de fazer. Ele está trazendo vida ao que não era uma área vital ou activa antes. ”
A obra gerou muitas críticas, sendo comparada a um posto de gasolina, uma pizzaria, um caixão gigante, uma cloaca, uma unidade de ar condicionado… Mas eu consegui olhar para o conjunto – altar e “caixa” de vidro – e consegui ver só o altar. De facto, o edifício que o cobre, precisamente com essa intenção, é feito de forma a dar ao altar toda a dignidade que tem, permite-lhe “respirar” e não ficar ofuscado.
Lá dentro, no monumento onde há 21 séculos se ia rezar pela paz, sentia-se um isolamento em relação ao ruído da rua, sentia-se uma paz que apelava à reflexão. Penso que era muito mais fácil naquela altura fazer oferendas, acreditando nos deuses que favoreciam um lado, aquele em que cada povo se encontrava.
Hoje, com todas as informações que temos, defender um só lado é quase impossível. Pensar numa paz, com todos os interesses nela implicados, parece ser um delírio. Dei comigo a pensar que, se orasse, se acreditasse na intervenção de um ente divino, não saberia o que solicitar. Acreditar no Homem está a tornar-se cada vez mais difícil.