Capitulo IV. 1. Bens e serviços negociáveis e não negociáveis no quadro da economia global: o caso da economia americana. Por Michael Spence e Sandile Hlatshwayo – IV
(Continuação)
Para ilustrar o que é uma cadeia de valor acrescentado ou como é que esta pode ser pensada, imagine-se que estamos a planear lançar um novo produto electrónico. Do projecto inicial até à venda a retalho há uma infinidade de etapas que devem ser tomadas e em que cada um delas pode ser dividida em outras pequenas etapas e processos (ver figura 3). Em suma, estas etapas, estes processos, formam a cadeia de valor acrescentado. O valor acrescentado para o produto final seria então o preço de venda no retalhista (o total, com as suas margens de lucros) menos todos os custos que se tiveram de suportar para obter o referido produto e para o levar até às mãos dos consumidores, com exclusão, de novo, dos custos em capital e trabalho.
Figura 3. Cadeia de valor acrescentado para um produto electrónico imaginário
Os detalhes e número de etapas variam entre as diferentes indústrias, entre os diferentes sectores. Quando as coisas são vistas desta forma, como sendo a transformação, no sentido da produção de uma dada mercadoria, não se trata de uma só indústria. Há um subconjunto de etapas ou passos na cadeia de valor acrescentado, e frequentemente, para produtos complexos como automóveis, há sempre mais do que uma etapa, mais do que um passo.
As cadeias de valor acrescentado complexas normalmente utilizam tanto bens e serviços transaccionáveis como os bens e serviços não transaccionáveis na qualidade de serem os seus inputs, os bens e serviços necessários para a produção do produto final Assim como os dados de uma qualquer dada indústria não capturam essas complexidades, adicionalmente os dados comerciais também têm muitas falhas. Um iPad enviado da Foxconn na China tem de valor acrescentado as componentes nele instaladas com origem os Estados Unidos e de vários países da Ásia. Sem uma grande quantidade de informações suplementares, é impossível fazer o registo, partindo do país consumidor até á origem de criação do produto e encontrar os locais de criação de valor acrescentado para um qualquer dado produto. Além disso, as cadeias de valor acrescentado para os produtos finais podem- se sobrepor. Algumas partes da cadeia são específicas para um particular produto em análise (montagem, por exemplo), enquanto que outras podem ser partilhadas (componentes ou logística ou funções de contabilidade e controle de custos). A economia global não se divide de forma nítida em diferentes cadeias de valor acrescentado totalmente separadas com uma para cada sector ou classe de produtos finais.
Parte do sector de bens e serviços transaccionáveis é um conjunto de funções que envolvem o processamento de informações e serviços que lhes estão relacionados. Estes sectores têm sido objecto de numerosos estudos e de muita atenção. As inovações tecnológicas importantes têm permitido importantes economias de trabalho no processamento de informações e na automatizações das transacções. Além disso, algumas destas funções foram externalizadas. Parece tornar-se então evidente que os dados parecem estar mais conformes com a conclusão que grande parte da redução do emprego que actualmente se tem verificado terá sido mais o resultado da aplicação de tecnologias labour-saving, tecnologias economizadoras do factor trabalho, do que da atitude de se andar a externalizar. No entanto, alguns analistas confundem estes sectores, com o sector dos bens e serviços negociáveis internacionalmente como um todo e concluem que a globalização tem tido impactos relativamente pequenos até agora. A premissa está errada e a conclusão falsa. O processamento de informações e os serviços relacionados representam uma pequena parte do crescimento do comércio internacional. Mas isto é interessante e relativamente novo, e os estudos feitos são pois úteis. Mas não se podem tirar conclusões gerais acerca do impacto da integração dos mercados globais a partir de análises feitas na base de uma relativamente pequena parte. Como veremos rapidamente, o emprego está em declínio na indústria transformadora e está a aumentar no sector financeiro. Ambos os grupos têm estado a externalizar o seu sector de serviços de informação. Mas concluir que o declínio do emprego industrial pode ser atribuído a um impacto extraordinariamente grande sobre estes sectores devido à externalização dos processos de tratamento das informações destes mesmos sectores ou pelo facto de que a automação das transacções seja labour-saving é simplesmente uma conclusão incorrecta.
Em forma de resumo, a melhor maneira para poder pensar sobre os sectores de bens e serviços da economia em termos de serem negociáveis ou não negociáveis internacionalmente é definir o primeiro subconjunto de actividades, de bens e serviços, como o subconjunto de actividades, de bens e serviços, que podem fazer parte de cadeias globais de produção . A este nível, temos os dados sobre os sectores. Então, como uma primeira aproximação, a classificação em bens e serviços (ou seja, por sectores) será pois feita em função da proporção como transaccionáveis e não transaccionáveis que depende aproximadamente da proporção dos bens e serviços transaccionáveis na cadeia de valor acrescentado (usando o valor acrescentado como medida).
(continua)