FÁTIMAS E HOLOCAUSTOS – III – por Adão Cruz

(Conclusão)

 

O Culto de Fátima que havia sofrido um recesso devocional com a derrota dos exércitos nazistas, agora com o suicídio de Hitler foi repentinamente reavivado. Em outubro de 1945 o Vaticano ordenou que fossem organizadas grandiosas peregrinações até o Santuário de Fátima. Em 1946 a Senhora de Fátima foi solenemente coroada diante de meio milhão de peregrinos. A coroa, pesando 1.200 gramas é de ouro maciço. Ela tinha 3l3 pérolas, 1250 pedras preciosas e 1400 diamantes. Pio XII se dirigiu do Vaticano aos peregrinos, afirmando que as promessas da Senhora de Fátima seriam cumpridas. “Estai prontos”, ele admoestou. “Não pode haver neutros, nem um passo atrás. Organizai-vos como cruzados”(5).
        

Em 1947 começou a Guerra Fria. O ódio contra a Rússia Soviética foi promovido sob os auspícios do Vaticano o qual enviou uma estátua da Senhora de Fátima com a “mensagem” dela, em peregrinação ao redor do mundo. A estátua foi enviada de país em país, a fim de desencadear o ódio contra a Rússia. Todos os governos a saudavam. Dentro de poucos anos, à medida em que crescia a Guerra Fria, a estátua já tinha ido à Europa, Ásia, África, Américas e Austrália, tendo visitado 53 nações. A ruptura entre o leste e o oeste continuou a aumentar.
        

Em 1948 começou  a ameaçadora corrida atômica americana-russa. Em 1949, Pio XII, no intuito de fortalecer o front anti russo, excomungou qualquer pessoa que votasse ou apoiasse os Comunistas. E logo em seguida, os teólogos católicos americanos disseram aos Estados Unidos que era o seu dever usar a bomba atômica (6). No ano seguinte 1950 a “estátua peregrina” que havia começado a viajar em 1947, no ano exato do início da Guerra Fria, foi enviada por avião, acompanhada pelo Padre Arthur Brassardi, sob as ordens expressas de Pio XII… para Moscou. Ali, com a calorosa aprovação do Almirante Kirk, Embaixador Americano, ela foi solenemente entronizada na igreja dos diplomatas estrangeiros. Para qual razão específica? “Aguardar a iminente liberação da Rússia soviética” (Nota da Tradutora: essa “iminente liberação” esperou por quarenta longos anos! Contudo se mil anos para Deus são como um dia, quem sabe para a Virgem esses 14.600 dias não corresponderiam a  apenas algumas horas? Afinal, ela é ou não é uma deusa?)
        

Não contente com isso a Senhora de Fátima apareceu quinze vezes em pessoa a uma freira nas Filipinas. Ela repetiu sua admoestação contra o Comunismo. Depois disso, uma chuva de rosas caiu aos pés da freirinha. Um jesuíta americano levou as miraculosas pétalas para os Estados Unidos, a fim de reativar a energia dos católicos fanáticos, liderados pelo criminoso americano Senador McCarty e muito dos seus apoiadores (7). Entrementes os promotores americanos da guerra, liderados por proeminentes católicos estavam se preparando fervorosamente para uma guerra atômica contra a Rússia. Católicos influentes, nas posições mais responsáveis não falavam de outra coisa. No dia 06.08.49, o advogado católico, General Mac Grath, dirigindo-se às “tropas de choque” católicas dos Estados Unidos – Os Cavaleiros de Colombo – em sua convenção em Portland Oregon apressou os católicos a “levantarem-se e colocarem-se como armadura da Igreja Católica militante em batalha para salvar o Cristianismo” (Cristianismo significando, é claro, a Igreja Católica). Ele ainda apressava o país a uma “audaciosa ofensiva”. 
        

Naquele mesmo ano, outro católico, uma das personalidades mais altas do governo americano, James Forestal, o principal cruzado contra o Comunismo nacional e estrangeiro, ajudou o Papa Pio XII a vencer as eleições na Itália enviando dinheiro americano além de dinheiro de seu próprio bolso. James Forestal, que estava em constante contato com o Vaticano e com o Cardeal Spellman, sabia melhor do que ninguém o que estava acontecendo em certos quadrantes americanos católicos. Por uma simples razão: ele era o Secretário Americano da Defesa. Um dia, quando escutou o barulho de uma aeronave de guerra, ele saiu correndo por uma rua de Washington, com a mais fatídica das mensagens: “os russos nos invadiram” gritava ele. Mais tarde sem levar em conta a garantia de Pio XII de que os russos seriam derrotados com o auxílio da Senhora de Fátima, o católico James Forestal, Secretário Americano da Defesa, pulou de uma janela do 16º andar de um prédio, no Capitólio Americano, temendo que fosse tarde demais para os russos serem derrotados (8).
 
        

No ano seguinte outro católico fanático foi nomeado para outro posto importante. Francis Mathews foi nomeado Secretário da Marinha Americana. Na manhã em que fez o pacto de compromisso (junho de 1949), Mathews, sua esposa e seis filhos assistiram contritamente a missa e receberam a Santa Comunhão na capela naval em Washington.
       

Alguns meses depois (outubro de 1949) o Cardeal Spellman foi convocado a Roma por Pio XII, com quem manteve repetidas e prolongadas reuniões particulares. Embora dando margem  a agudas especulações essas reuniões ficaram no mais absoluto segredo. O novo Secretário da Marinha dos Estados Unidos, de modo muito estranho, logo em seguida, começou a ter contatos ativos  não usuais com católicos proeminentes. Dentre estes, o Jesuíta Padre Walsh, Vice Presidente da Universidade de  Georgetown; o Cardeal Spellman; o Chefe da Legião Americana; e os líderes dos Veteranos Católicos de Guerra. E com o Senador McCarty, o arqui criminoso Senador que sob conselho de um padre católico estava exatamente iniciando uma campanha difamatória que quase iria paralisar os Estados Unidos por alguns anos. A imprensa católica começou uma campanha de guerra psicológica, através de toda a nação. Menções abertas de uma rápida guerra atômica, mais uma vez, eram feitas. A culminância dessas atividades veio num discurso entregue em Boston, em 25.08.50, por Mr. F. Mathews. O arqui católico Secretário da Marinha Americana, porta voz de certas forças do Senador do Vaticano, convocou os Estados Unidos a desencadearem um ataque contra a Rússia soviética a fim de tornar o povo americano “os primeiros agressores pela paz, como iniciadores de uma guerra de agressão”, acrescentou ele, “e isso nos daria um título orgulhoso e popular: seríamos os primeiros agressores pela paz”.
        

O discurso causou sensação, tanto nos Estados Unidos como na Europa. A França declarou que “não tomaria parte em qualquer guerra de agressão… visto como uma guerra preventiva… liberaria nada menos que ruínas e túmulos de nossa civilização” (9). A Grã-Bretanha enviou uma resposta de protesto ainda mais ferina.
        

Enquanto o povo do mundo inteiro repelia a monstruosa proposta, George Craig, da Legião Americana, declarava (agosto de 1950): “sim, os Estados Unidos iniciariam a III Guerra Mundial sobre nossos termos e ficariam prontos, quando o sinal pudesse ser dado, para os nossos bombardeiros voarem sobre Moscou”.
        

O fato de advogar uma “guerra atômica preventiva” ter sido feito primeiro por um católico não foi mera coincidência. Mr. Mathews, o chefe do segmento mais importante das Forças Armadas Americanas – a  Marinha, o maior instrumento de guerra do mundo, havia se tornado a obra verbal do seu mestre espiritual – Pio XII. Pois o arqui católico Mathews não era apenas um constante beijoqueiro do anel dos membros da hierarquia católica americana, ele era um dos mais ativos promotores do Catolicismo em ação nos Estados Unidos. Além disso, este super católico Secretário da Marinha Americana era o Gerente do Serviço Nacional Católico da Comunidade e  ainda mais sinistro, o supremo cavaleiro dos Cavaleiros de Colombo (10), a tropa de choque do poder católico nos Estados Unidos, e, o que é melhor, o camareiro secreto particular do Papa Pio XII.
        

A hierarquia católica, a imprensa católica e os Cavaleiros de Colombo, todos apoiavam a advocacia de Mr. Mathews de uma guerra atômica preventiva. O padre jesuíta Walsh a mais destacada autoridade católica nos Estados Unidos, ex agente secreto do Vaticano na Rússia (1925) disse ao povo americano que “o Presidente Truman seria moralmente justificado ao tomar medidas defensivas proporcionais ao perigo”. Isto significava sem dúvida o uso da bomba atômica (11).
        

Quando os Estados Unidos prosseguiram com a fabricação da bomba de hidrogênio até mesmo o gerente da Comissão de energia Atômica, Senador Brian MacMahon, estremeceu de horror ante a perspectiva do massacre certo de 50 milhões de pessoas com uma arma tão letal (12). Contudo os católicos aprovaram o uso da mesma. O Padre Connell declarou que o uso da Bomba de Hidrogênio  pelos Estados Unidos era justificado, porque “os Comunistas poderiam utilizar sua grande força armada… para enfraquecer os defensores dos direitos humanos”.
        

A advocacia de uma guerra atômica preventiva pelo supremo cavaleiro dos Cavaleiros de Colombo – Mr. Mathews – assumia tremenda significação quando se recorda que o discurso do Secretário da Marinha dos Estados Unidos não causou surpresa a certos líderes seletos do catolicismo, muito menos ao Vaticano. Como assim? Simplesmente porque Mr. Mathews havia revelado o conteúdo do seu discurso em Boston aos católicos de elite, antes de entregá-lo. De fato, dias antes de ser pronunciado. O principal em tudo isso é que entre esses católicos havia pessoas influentes e entre elas, o líder da hierarquia católica dos Estados Unidos, o Cardeal Spellman.
        

Agora, deve se lembrar que o Cardeal Spellman estava em permanente contato pessoal com o Papa Pio XII de quem ele fora amigo íntimo e conselheiro particular para assuntos políticos desde a II Guerra Mundial. O Cardeal Spellman, além de tudo, era o conselheiro e amigo pessoal do mais influente líder militar da América. Desse modo, qualquer coisa importante que fosse conhecida no “pequeno Vaticano” em Nova Iorque como era chamada a residência do Cardeal Spellman, era imediatamente conhecida no Vaticano em Roma e vice-versa. O Papa Pio XII fora bem informado sobre todo o processo, muito antes do discurso de Mathews em Boston. De fato, a evidência é de que ele tenha sido um dos seus mais tácitos instigadores. As visitas contínuas nesse tempo de líderes militares influentes do Estados Unidos ao papa, (cinco num só dia), as freqüentes  audiências secretas com o Cardeal Spellman, os contatos extra oficiais com os cavaleiros de Colombo, tudo isso indicava que Pio XII sabia muito bem o que de fato  estava para  acontecer (13).
        

Alguns anos mais tarde, numa cruzada de ódio, num discurso falado simultaneamente nas 27 línguas principais, nas principais estações de rádio do mundo, Pio XII reiterou “a moralidade… de uma guerra defensiva” (isto é, uma guerra atômica e de hidrogênio), exigindo, conforme descrito sombriamente no London Times: “o que quase se iguala a uma cruzada da Cristandade” e que o Manchester Guardian ostensivamente denominou “a bênção do papa para uma guerra preventiva” (14).
        

Ante Pavelic, o Arcebispo Stepinac (que o papa havia promovido a cardeal) e todos os batalhões da Ustashi, diante de tal grito de guerra papal, ficaram em alerta. Dessa vez não iriam perder, visto como seu protetor, o próprio Pio XII, agora se aliara, em vez de a Hitler, a um novo apoiador e parceiro – a mais poderosa nação da terra, os vitoriosos Estados Unidos da América.

 

3 Comments

  1. Estive ausente e cheguei agora. Claro que o texto não é meu. Este texto é a parte final do capítulo 20 do livro de Avro Manhttan que eu enviei para publicação. O texto foi dividido, e, apresentado desta forma, gera confusões.

Leave a Reply