O CRESCIMENTO DOS FILHOS È A MORTE LENTA DOS PAIS – 2 – por Raúl Iturra

 A criança observa que os adultos estão já cansados de estar sempre juntos como as leis canónica e civil mandam, de serem publicamente exclusivos um para o outro, de serem um casal eterno. Mudando assim para a união de facto que substitui a vontade individual e autónoma, pela vontade do Estado e da Lei. Lei que diz que um casal que vive junto durante anos, é um casal unido como que num ritual com testemunhas públicas, divinas ou humanas. A criançada observa que a heterogeneidade do adulto é duma monogamia seriada o divórcio -, ou duma monogamia simultânea- o adultério, de uma das partes ou das duas.
Criançada que se resolve assim, pela monogamia retardada e permanente, possível também pela descoberta da analise do genoma que permite saber a cronologia e a história da sua vida. Cronologia que permite saber o tempo real de vida jovem e sadia que se terá, saber nem sonhado pelos seus pais ou ancestrais mais antigos, colados entre eles, na sua ignorância de vida, pelo sacramento no qual confiam para se amar.
Eternos no seu andar juntos, gostando ou não um do outro. Criançada que observa que ter filhos logo ao começo da paixão, é matar o possível amor para os criar e o carinho para os manter unidos nas idades da solidão do adulto. Idade onde no ninho já não há pássaros, o síndroma do ninho vazio, esse que leva aos adultos do acasalamento ritual, a querer possuir sua antiga descendência por meio de uma sobre proteção que acaba por destruir o novo lar.
Criançada que sabe que é melhor andar pelas vias da vida alternativas e sem compromisso antes de se comprometerem com uma outra pessoa; que a relação começa na experiência da cama para eventualmente acabar com um outro, do seu mesmo ou diferente género, sob o som dos sinos que anunciam a relação que acompanha o carinho que o amor destrançou da paixão. Carinho eterno de cimento de amor surgido das cinzas da paixão, essa que acaba quando são sempre os mesmos dois. Via paralela que aprende, do eterno casal a dois, a perenidade dessa paixão, tecendo carinho do amor. Sem procurar a obrigatoriedade cultural da reprodução humana para se unir, envereda pela ideia de ser o desejo o sentimento central para amar, ter filhos e criá-los. Lição que o adulto pensa andar a ensinar desde a sua via das águas passadas, enquanto a geração da via ascendente bebe do amor para desejar, com ou sem descendentes.
3. É a lenta morte dos pais.
Será a ideia dos pais desaparecerem? Ou a ideia natural dos mais velhos morrerem primeiro? É o sentimento da memória social que separa as águas de duas gerações diferentes, em rotas de subida e descida pelas vias da vida? Ou, não será apenas apagar o exemplo do adulto no andamento pelos trilhos da vida? Parece ser certo o facto dos mais velhos traçarem o exemplo. Parece ser certo dos mais novos fixarem as novas regras. Porque há novos dados. Tal como os Romanos que não souberam usar a lei de Arquimedes de levar a água para dentro da casa por baixo da terra, construindo muros como canais para a elevar até ao fogão.
Tal e qual a nova geração tem aprendido que autonomia e individualidade, vontade e objetivo de vida, são as vias subterrâneas, privadas e intimas, para a felicidade. A criança cresce no caminho contrário ao do seu adulto. Cresce até ao ponto de não se reconhecer nos seus ancestrais mais imediatos na produção da vida. Esse feito que tenho denominado reprodução e que hoje, como já referi nesta revista no mês de Julho, eu denominaria transição. A geração denominada dos pais tenham descendentes ou não, procurava e queria a reprodução. A geração mais nova, quer ser transição. Entende-se como transição.
Não entre nascer, crescer e morrer, mas sim em como será a vida com a analise da sua nova possibilidade cronológica, da descoberta do genoma humano e da sua possibilidade de o estudar e de o entender. De saber como a sua vida vai decorrer. O saber científico de hoje, bem como o saber da gestão da economia para o lucro de todos por igual, sem trabalho em demasia. A clonagem da vida à qual estão agora agarrados os novos seres. Ainda em Pencahue os adultos continuam a falar calados por temor ao velho ditador, julgado como agora está e isolado da população à qual tanto matou provocando o silêncio dos adultos. Os mais novos já não querem saber desse medo: desejam e têm o direito de viverem a sua vida sem olhar sempre para o passado. Falar as calmas as palavras que pensam e fazer o que sentem: já não há perseguição. Não entendem esse conceito e, menos ainda, o sentimento de um saber no experimentado. Há toda uma transição entre ascendentes e descendentes. Ou, esse outro que diz, algures em Pencahue, em Vila Ruiva ou em Vilatuxe, que o pensamento católico continua a condenar as opções sentimentais das pessoas quando não ajustadas à Tradição da Patrística, tal e qual lhe parece ler no Catecismo de 1991. Leitura adulta mal feita, Tradição e Patrística sempre manipulada pelos objetivos das pessoas que desejam governar as suas vidas e impor esse entender no meio do seu grupo social.

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