O jardim de Raquel – Eva Cruz

 

 

Eva Cruz  O jardim de Raquel

 

 

    

 

(Manuel Cruz)

 

 

 

O jardim de Raquel abre-se ao sol

caindo da Serra

uma coberta de retalhos

tecida de mil aromas

borda a pedra do tanque grande.

Entrelaçam ervilhas de cheiro

os toros das couves galegas

esporas azuis na cidreira e na hortelã

abraçam-se pica-narizes e alecrim

e os cosmes cor-de-rosa

chamam os pintassilgos ao cair da tarde.

Malmequeres de muitas cores

e amores-perfeitos

desdenham da singeleza

dos miosótis azul-sulfato

que bebem a água do rego da mina.

As tímidas flores da rama das batatas

estendem o jardim pelo campo fora

fundindo verdes

no verde de todo o Vale.

Raquel desprende-se da pedra do tanque

veste-se da cor dos cosmes

enche a vida de flores

e voa na brisa que afaga o seu jardim.

No regresso do tempo sonhado

à beira do tanque grande

só um pintassilgo volta

ainda

com o cair da tarde.

 

(in Eva Cruz, Era uma vez, Future Kids, Campo das Letras)

 

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