Como, de facto, aconteceu este verão em Pencahue, Comuna da Província de Talca, Chile quando vi tantos casais novos de experiência antes do compromisso, tanto adulto a falar comigo para perguntar como era possível voltar ás águas passadas, furtadas pelo agir do saber que eles não entendiam. Ou esse rapazes de Vila Ruiva, Concelho de Nelas, Portugal, a pôr em questão às suas mães num debate público sobre sexualidade, em Julho deste ano: tua não me largas, tu queres mandar e eu quero ser autónomo, seria a síntese dessa discussão. Debate de meninas de 19 anos às mães de 40. Questão nunca pensada pelas santas senhoras a congeminar na vida na qual foram criadas, elas próprias e as suas santas mães, algumas delas, já anciãs.
Pais a temerem pela castidade da sua descendência, essa que nem diz nem conta, mas não ouve a homilia que desde Roma ou Fátima se tenta inculcar. Homilia a cair em ouvidos em transição, ouvidos sem tímpanos para entenderem o som da melodia de dançar de melopeia que perdura pelos passeios das ruas que o grupo social cruza ao partilhar um saber universal. Os pais a saberem que continuam vivos como seres, mas mortos como autoridades; sem saberem que, dentro de cada pequeno, esse adulto ficou quando a pequenada era menina e quando, já na puberdade, esse adulto soube entender que a vida era muito diferente à vida que ele próprio teve quando jovem e pequeno.
4. Epílogo.
O crescimento das crianças é a lenta morte dos pais. Mais entendem, sabem e fazem os novos, menos pais e mais amigos ficam os adultos. Quase da mesma geração se conseguirem não mandar o que não entendem. E entenderem a nova era que hoje se vive. A seguir à clonagem do genoma, a sua análise, a mudança dos dogmas das Igrejas. Todas a mudarem para se ajustarem ao avanço do que, no Século XIV, o frade franciscano de Oxford, Guilherme de Occam, já denominara como ciência: a prática das pessoas, válida pela dinâmica que a sua experimentação traz na interação humana, bem mais avançada que a Teologia do Vaticano, é capaz de definir. A lenta morte dos pais deve ser aceite pelo ser humano, jovem e adulto, para continuarem a viver em paz e felicidade.
Ou, pelo menos, em compreensão. Como a desses pequenos de Pencahue que me deram uma festa de dança e flores, por eu ter falado deles nos meus livros. Amor com amor se paga, foi-me dito. Amor com amor, faz da lenta morte dos pais, uma transição do tratamento de adulto para adulto. Esse que nunca deixa o ninho vazio, que o faz crescer enquanto os novos ninhos aprendem amor como desejo e esquecem a paixão já apagada nas práticas da adolescência e da primeira, da segunda e terceira juventudes. Conceitos até hoje usados que apenas param o fim da vida: a terceira e quarta idade. Conceitos que devem ser transferidos às novas formas de vida que incrementam a cronologia da juventude bem como alongam as idades da vida. Enquanto crescem as crianças, morrem os pais, mas ficam, juntas e em convívio, as pessoas. A ciência deve-nos obrigar a mudar os conceitos, tal como a vida tem mudado da reprodução para a transição: de agir por sentir e pensar, para agir o sentir com disciplina. Tal como a juventude de hoje deve fazer para transitar entre alternativas.
Bibliografia.
Catecismo de la Iglesia Católica, 1992, Asociación de Editores del Catecismo, Madrid. A versão portuguesa é de 1993.
Iturra, Raúl, 2000: O saber sexual das crianças. Desejo-te, porque te amo. Afrontamento, Porto.
A Página da Educação, Nascer, morrer, crescer: a persona é transição, Julho de 2000. Porto-
Miller, Alice, (1970) 1994: El drama del niño dotado. Tusquets Editores, Barcelona.
(1980) 1983: For your own good. The roots of violence in child -rearing. Virago, Londres.
(1988 a) 1990: El saber proscrito. Tusquets Editores, Barcelona.
(1988 b) 1991: La llave perdida. Tusquets Editores, Barcelona.
Occam, Guilherme de, (1319) 1985: Principios de filosofía. Sarpe Editora, Madrid.
Valcuende del Río, José María, 1998: Zalamea la Real: la tierra y la mina. Cambios socio-económicos, relaciones de poder y representaciones colectivas. Diputación Provincial, Huelva.
Vega e Carpio, Lope de, c. 1580: Si tu pensas. Monserrat Figueras, Jordi Saval, Hesperión XX. Astrée, Berlim 1987.
A seguir – A DIVINDADE EM CIÊNCIAS MÉDICAS