LUTA OU BARBÁRIE – por Carlos Loures

 

NA APRESENTAÇÃO DE CATASTROIKA

 

A ideia de que as catástrofes, na natureza ou na economia, constituem oportunidades para, partindo do zero, criar uma nova ordenação da realidade, é um dos pilares das teorias de Milton Friedman, o Prémio Nobel da Economia de 1976, amigo de Pinochet e mestre dilecto de Vítor Gaspar. Friedman viu o golpe militar  chileno de 1973 e as inundações de Nova Orleães em 2005, como oportunidades únicas para, em cima das ruínas, edificar novas estruturas – erradicando impulsos humanistas, atavismos solidários, protecções sociais encorajadoras da preguiça e inibidoras do espírito empreendedor. Estas ideias radicais atingiram como um raio os cérebros do actual executivo governamental e é vê-los com o ar impante de quem descobriu a pólvora a debitar uma teoria que levada à prática se traduz em terrorismo puro – faz vir à superfície todas as pulsões animais que milénios de evolução comportamental tentaram sublimar. Ao vermos, após o filme que mostrámos ontem sobre a Doutrina do Choque, o documentário que hoje apresentamos – Catastroika, podemos antever o que espera a Grécia, Portugal, a Europa, se prevalecer esta política que a depressão económica desencadeou. O capitalismo selvagem em todo o seu esplendor – uma sociedade em que os espertos e os insensíveis ao sofrimento alheio triunfarão. Ética, princípios, compaixão, solidariedade? Tralha que é preciso varrer para debaixo do tapete da memória.

 

Neste desassombrado documentário, relata-se o impacto demolidor da  privatização maciça do património público, denunciando-se a ideologia neoliberal que está por detrás. Os exemplos concretos da Rússia, Chile, Inglaterra, França, Estados Unidos e, naturalmente, na Grécia, em sectores como os transportes, a água ou a energia. Valiosos testemunhos, como os da nossa conhecida Naomi Klein e o do escritor chileno Luis Sepúlveda, reforçam a argumentação.

 

A receita é clara – demonstrar a ineficácia dos serviços públicos, apontar como responsáveis os funcionários e apresentando a privatização como única solução e a entidade que os compra como benfeitora, pois liberta o Estado de uma despesa com um serviço medíocre – por isso vende barato.

Catastroika demonstra que o endividamento consiste numa estratégia para enquistar em regimes democráticos medidas que até em ditaduras seria difícil instaurar, transferindo para o sector privado a riqueza gerada por gerações de cidadãos. Roubo puro e simples perante o qual se coloca apenas uma alternativa – lutar. Defender a Democracia ou aceitar a Barbárie.

 

Vamos então ver Catastroika com atenção:

 

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