O GARDEN- PARTY, de KATHERINE MANSFIELD – XI. Tradução de João Machado.

Um Café na Internet

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(continuação)

 

― Vai tu levá-lo, querida, ― disse para a filha. ― Depressa, vai assim mesmo como estás. Espera, leva também os lírios. As pessoas do povo gostam tanto de lírios.

 

 

― As hastes vão-lhe dar cabo dos atilhos do vestido, ―disse Jose, sempre prática.

Era verdade. Mesmo a tempo. ― Então leva só o cesto. E Laura ― a mãe saiu do toldo atrás dela  ― em caso nenhum …

 

― O quê, mãe?

 

Era melhor não meter ideias na cabeça da criança! ― Nada! Vai depressa.

 

Estava a ficar escuro quando Laura fechou os portões do jardim. Um cão grande passou a correr como uma sombra. Na estrada vislumbravam-se clarões brancos, e abaixo na cova as casinhas estavam mergulhadas numa sombra escura. Tudo parecia sossegado no fim de tarde. Aqui ia ela colina abaixo até um lugar onde um homem jazia morto, e ela não conseguia perceber porquê. Porque é que não conseguia? Parou um instante. Pareceu-lhe que de algum modo tinha dentro dela beijos, vozes, colheres a tilintar, risos, o cheiro de erva pisada. Não tinha lugar dentro dela para nada mais. Olhou para cima, para o céu pálido, e tudo em que pensou foi, ― Sim, foi a festa com maior sucesso.

 

Agora já tinha atravessado a estrada larga. Entrou na travessa, enevoada e escura. Mulheres em xales e homens com bonés de tweed passavam apressadamente. Homens debruçavam-se sobre tábuas, crianças brincavam nos vãos de porta. Um ruído surdo vinha das casinhas humildes. Nalgumas cintilava uma luz, e uma sombra, como um caranguejo, passava pela janela. Laura baixou a cabeça e continuou. Agora achava que devia ter trazido um casaco. Como o seu vestido brilhava! E o chapéu grande com a fita de veludo – se ao menos tivesse trazido outro chapéu! Estariam as pessoas a olhar para ela? É que deviam estar. Era asneira ter vindo; desde o início que ela o tinha percebido. E se voltasse para trás?

 

Era demasiado tarde. Já estava em frente à casa. Tinha que ser aquela. Havia um agrupamento de pessoas à porta. Ao pé da cancela, uma mulher muito velha com uma muleta estava sentada numa cadeira, a observar. Tinha os pés poisados num jornal. As vozes interromperam-se quando Laura se aproximou. O grupo desfez-se. Era como se a esperassem, como se soubessem que ela vinha.

 

Laura estava terrivelmente nervosa. Atirando a fita de veludo por cima do ombro, perguntou a uma mulher que parecia estar ali à espera: ― É a casa da Senhora Scott? ― e a mulher, com um sorriso esquisito, respondeu:  

 

 

― É sim, minha menina.

 

Oh, se pudesse estar longe dali! Disse para si própria, ― Deus me ajude, ― enquanto atravessava o pequeno quintal e batia á porta. Estar longe daqueles olhares fixos, ou escondida por qualquer coisa, nem que fosse um daqueles xales que as mulheres usavam. Deixo o cesto e vou-me embora, decidiu consigo própria. ― Nem vou esperar que o despejem.

 

Mas nesse instante a porta abriu-se. Uma mulher baixinha apareceu no escuro.  

 

(continua)

 

 

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