Globalização e Desindustrialização – 4ª Série

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

 

Capitulo IV. 1. Bens e serviços negociáveis e não negociáveis no quadro da economia global: o caso da economia americana. Por Michael Spence e Sandile Hlatshwayo  – X

 

(continuação)

 

 

Valor acrescentado por pessoa empregue (ou por posto de trabalho)


Pode-se colocar o emprego e os dados sobre o  valor acrescentado em confronto e analisar-se a evolução do valor acrescentado por pessoa assalariada, na economia como um todo, na parte dos negociáveis e na parte dos não negociáveis, e também sector por sector, indústria a indústria.


Em 1990, o valor acrescentado por pessoa empregada (VAP) nos sectores transaccionáveis e não transaccionáveis foi bastante semelhante, com o sector dos transaccionáveis a indicar o valor aproximado dc 80.000 dólares, com perto de 10.000 dólares acima dos não negociáveis (ver Figura 15). Mas o valor acrescentado por pessoa empregue  em ambas as partes da economia  divergiu lentamente durante a década de 90 e  depois, rapidamente após 2000. O VAP da parte nos transaccionáveis na economia cresceu a uma média de 2,3% por ano e o VAP da parte dos não negociáveis na economia cresceu a 0,7 por cento. Por volta de 2008, o VAP na parte dos transaccionáveis era superior em cerca de 50% do VAP na parte dos não negociáveis.


Como observámos anteriormente, existem dois tipos de sectores na categoria dos negociáveis. No primeiro tipo, nas suas cadeias de produção as componentes  de menor valor agregados estão a ser deslocalizadas. Estas cadeias viram descer os seus volumes de emprego e viram crescer o seu valor acrescentado, o que implica uma estrutura acentuadamente crescente do valor acrescentado por trabalhador.


No segundo tipo, o emprego e valor acrescentado aumentam conjuntamente. Estes tendem a ser serviços de alto valor acrescentado em que a economia americana  continua a desfrutar de uma posição competitiva ou a ser melhor. Neste conjunto de sectores, não se poderia saber  antecipadamente, pela lógica e pela aritmética, se o valor acrescentado por trabalhador iria  subir ou descer. Na verdade, o VAP parece ter aumentado na maioria deles. Aqueles que são os sectores em crescimento são também aqueles  em que o valor acrescentado e o VAP estão a crescer em conjunto; aqui, a cadeia do valor acrescentado não está (ou ainda não está ) a migrar  para outras partes da economia global.

 

 

 

Valor acrescentado por pessoa

 

As figuras 16 e 17 mostram o valor acrescentado por pessoa empregue  pela indústria do sector de bens e serviços transaccionáveis. A Figura 16 (os principais) mostra  aqueles com um valor inicial acima dos 100.000 dólares  e a  Figura 17 apresenta tudo  o resto (menores).

 

As industrias extractivas, e o sector público de serviços básicos, como a electricidade, gás e outros, são sectores altamente capital intensivos, daí o elevado valor acrescentado por trabalhador. 

  

Além disso, estes serviços públicos são na sua maioria não comercializáveis, com um pequeno número de componentes que são comercializáveis. De 1990 a 2008, o VAP subiu no sector financeiro e nos seguros  (+ 38 por cento), nos serviços públicos básicos  (+ 40 por cento) e nos outros transportes (+ 20 por cento), mas caiu nas indústrias extractivas  (-54 por cento).

 

 

Mas os grandes aumentos são observados na Figura 17. Estas categorias de bens e serviços negociáveis internacionalmente tiveram, na sua maior parte, um aumento do VAP, incluindo mesmo  os ramos  da indústria transformadora onde baixou o emprego (conforme se  esperava, porque o valor acrescentado foi aumentando) e os sectores de serviços com emprego a crescer , onde a evolução do  VAP poderá ter aumentado ou diminuído. Na verdade, o VAP está a subir rapidamente nestes sectores de serviços de ponta, ditos também sectores de vanguarda, especialmente no sector de informação (+67 por cento).

 

 

 

O aumento mais notável do VAP foi na electrónica, onde terá passado de 4.000 dólares em 1990 para aproximadamente mais de 200.000 dólares em 2008, um aumento de 405%. Naturalmente, o baixo valor do VAP  em 1990 precisa ser colocado no seu próprio contexto; o seu nível extremamente baixo é um artefacto estatístico, reflectindo a construção do real valor acrescentado com a utilização de  dados de  2005 como seu valor de referência. Os primeiros consumidores de computadores pessoais recordarão  os preços exorbitantemente elevados da electrónica na década de 90 pelos padrões de hoje, ou seja pelo valor actual dos valores de então; desde aí, os preços têm  caído  fortemente  ano após ano. (Fig 18) Os custos também caíram para capacidades de processamento de computador equivalentes, e este foi o efeito económico  resultante da verificação da lei de Moore. Basicamente, os dados sobre o valor acrescentado não reflectem o que os consumidores pagam actualmente pelos produtos nos primeiros anos

 

 

 

Como perspectiva, o VAP nominal em 1990 foi de cerca de 52.000 dólares, muito acima da VAP real de cerca de 4.000 dólares. Os detalhes do crescimento neste sector  são discutidos mais detalhadamente em apêndice.

 

(continua)

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