Através de dois informadores da Direcção Geral de Segurança (DGS-PIDE), a Companhia foi informada da existência de um Acampamento Inimigo em determinada zona. Foi logo iniciada a Operação “Extinguir/IH”, de que passo a fazer a narrativa:
Em 22 de Maio de 1972, pelas 13 horas, saiu uma coluna auto até ao ponto de coordenadas 173205.1312, onde se iniciou a progressão para o objectivo, tendo atravessado o Rio Chimbandianga no ponto 1745.131105 na madrugada do dia 23 de Maio, tendo pernoitado em 1650.1313. Em 24 de Maio, progrediu-se até ao ponto de coordenadas 1755.131806. Na madrugada do dia 25 de Maio, procedeu-se ao assalto ao acampamento pelas 07H05.
Foi o Furriel Oliveira que começou o tiroteio, depois de ter tentado disparar um dilagrama sobre um grupo de turras que se encontrava a receber ordens de trabalho de um superior, mas, como o disparo não surgiu, deu ordem de fogo. E assim se deu origem ao tiroteio. O inimigo passou da surpresa à acção, reagindo ao nosso fogo e tentando o envolvimento. Mas, desta vez estavam dois grupos de combate atentos antevendo essa táctica, tendo o Soldado apontador de metralhadora Silvino Gouveia Rodrigues desfeito os planos do Inimigo, metralhando continuamente sobre os que teimavam avançar sobre a retaguarda das nossas forças. A batalha travou-se com tiros e com palavras de ódio, sendo trocadas diversas obscenidades entre os guerrilheiros do MPLA e as nossas tropas. Os resultados obtidos pelo inimigo foram nulos mas, em contrapartida, os resultados obtidos pelas nossas Forças foram bem diferentes, na medida em que causámos 19 mortos, para cima de 10 feridos, e foram recuperados um homem e três crianças, tendo o homem e duas crianças sido raptados oito dias antes nas lavras do Rio Chiondo – Umpulo.
Verificou-se, por interrogatório feito aos capturados e pela morte dos guerrilheiros Pendo, Pedro (chefe) e Total, que se encontravam neste acampamento ainda os seguintes guerrilheiros: Kilimanjaro, Brida, Ekuekue, Ualifila, Tom, Onza, Cambinda, Camocha e Luta, entre outros. Encontravam-se no acampamento 48 guerrilheiros, sendo 46 armados e bastante população. O inimigo reagiu ao fogo durante 48 minutos. Salienta-se o facto dos capturados insistirem em que o comandante Pedro era o mais graduado a seguir ao Kilimanjaro, pois não se encontrava referenciado na Ordem de Batalha (Ficheiro que continha os nomes dos guerrilheiros do MPLA e UNITA) nenhum elemento de nome Pedro com funções de chefia. Pelos elementos que constituíam o Acampamento, sem palhotas e sem cobertas, apenas com alguns abrigos no solo, concluiu-se que se encontrava ali o chefe da V Região Militar e o Sector 1.
Depois de concluída esta operação, posso dizer que ficámos surpreendidos por só encontrar sete mortos no acampamento. Como não podia deixar de ser, foi feita uma batida na zona por onde se deu a debandada do inimigo. Foi então encontrado o corpo de um guerrilheiro, já cadáver e tinha o abdómen todo à vista em virtude de ter sido cortado com uma rajada de metralhadora. Este cadáver encontrava-se a cerca de 4 km da zona de combate. O último cadáver foi encontrado a 15 km.
Quando se deu o regresso ao quartel, os nossos homens vinham eufóricos, mas essa alegria iria durar pouco tempo porque, ao atingirem o Destacamento do Cuvelai, receberam uma notícia que os deixou bastante chocados e, a alegria que traziam transformou-se em tristeza.
Ao mesmo tempo que se dava o início do assalto ao acampamento inimigo, no quartel passava-se algo que passo a narrar:
Às 07H00 iniciou-se uma experiência de Rádios AR-TERRA. O nosso Radiotelegrafista Armando Barbosa Marques entrou para o helicóptero que se encontrava no Mutumbo e cuja missão era dar apoio aéreo à Operação que estava decorrendo, a fim de efectuar a referida experiência. Esta decorreu perfeitamente e no fim, o Furriel piloto, resolveu fazer algumas acrobacias aéreas para impressionar o nosso Radiotelegrafista Armando. Porém, tudo lhe decorreu ao contrário e, tendo o helicóptero avariado no ar, despenhou-se mesmo em frente ao quartel a uma distância de 20 metros, em frente à caserna do 4º grupo de combate. O resultado destas acrobacias foi um ferido e dois mortos. O 1º Cabo Mecânico da Força Aérea e o nosso soldado Radiotelegrafista faleceram e o piloto salvou-se por uma unha negra mas ficou gravemente ferido. Passados vinte minutos de ter acontecido esta tragédia, apareceu no céu uma avioneta que transportava o Brigadeiro comandante do Sector do Bié, que vinha em visita oficial à Companhia. Não foi preciso aterrar para que Sua Excelência o Brigadeiro se apercebesse do que tinha acontecido. A avioneta nem chegou a desligar os motores, pois de imediato seguiu para Nova Lisboa com o Furriel piloto ferido. A visita do Brigadeiro à Companhia acabou por ser fúnebre, pois o acontecimento chocou-o profundamente. Limitou-se a dar algumas palestras e desejou felicidades ao pessoal da Companhia. Ao referir-se ao resultado da operação que tinha acabado de decorrer, congratulou a Companhia, tendo em seguida voltado para Silva Porto.