FERNANDO PESSOA – Um mito em permanente construção

 

Na passada terça-feira, dia 22 de Maio, a secretária e a máquina de escrever que Fernando Pessoa utilizou num dos seus empregos foram vendidas num leilão, em Lisboa, por um valor global de 94.751 mil euros.

 

O valor de licitação da secretária em mogno, com tampo de esteira, quatro gavetas de cada um dos lados, o interior forrado a pele verde e com diversos compartimentos, oscilava entre os 10 mil e os 20 mil euros. Porém, atingiu um valor final de 68.701 mil euros

 

 

A máquina de escrever, da marca Royal, tinha um valor de licitação entre os três mil e os cinco mi, mas foi vendida por 26.059 euros.

 

 

Quem comprou as duas peças? 

 

Foi José Paulo Cavalcanti Filho, autor de Fernando Pessoa – Uma quase autobiografia. Em 25 de Setembro, publicámos uma resenha crítica e aste livro escrita por Silio Boccanera, um jornalista brasileiro correspondente da TV Globo em Londres. Uma apreciação favorável a um livro que revela aspectos menos conhecidos da personalidade do escritor, nomeadamente as suas posições políticas. Menos conhecidos fora de Portugal, pelo menos. O livro ‘Fernando Pessoa – Uma quase autobiografia’, do autor brasileiro José Paulo Cavalcanti Filho, foi lançado em Abril, em Portugal, pela Porto Editora. .O autor, ex-ministro da Justiça do Brasil e actual consultor da UNESCO, recebeu nesse mês o Prémio da Bienal do Livro de Brasília na categoria de biografia.

 

A secretária e a máquina de escrever compradas pelo advogado pernambucano foram utilizadas por Fernando Pessoa quando trabalhou na Sociedade Portuguesa de Explosivos, situada no Largo do Corpo Santo, n.º28, na esquina com a Rua do Arsenal, em Lisboa, mas que não faziam parte do seu espólio.

 

 

Não querendo ser desmancha-prazeres, diria que as secretárias e máquinas de escrever em que Pessoa trabalhou, serão muitas – vejamos uma lista colhida num roteiro pessoano de Marina Tavares de escritórios onde exerceu sobretudo funções de correspondente comercial: Rua da Prata. No n.º 267-1.º Dtº, no escritório Lavado, Pinto & C.ª Lda., entre 1913 e 1915. Deve ter sido neste período que almoçava frequentemente no Restaurante Pessoa, na esquina da Rua dos Douradores com o Largo de Santa Justa. Muitos turistas estrangeiros supõem que o nome do restaurante – “Antiga Casa Pessoa” – constitui uma homenagem ao escritor.

 

 

 No Campo das Cebolas, n.º 43-1º situava-se o escritório de A. Xavier Pinto & C.ª, onde Fernando Pessoa recebia, entre 1915 e 1917, grande parte da sua correspondência pessoal. Foi no n.º 101 da Rua de São Julião, na firma Xavier Pinto & C.ª, que recebeu a notícia do suicídio de Mário de Sá Carneiro, em 1916. No 3.º andar do n.º 41 da mesma rua, dirigiu uma empresa de representações, entre 1917 e 1919. Na Rua do Ouro, n.º 87-2.º, entre 1917 e 1918, funcionou uma firma de “comissões e consignações” de que era sócio. Também no 1.º andar do n.º 52 da Rua de São Julião, teve outro escritório pessoal, na década de 20. Na Rua dos Fanqueiros, n.º 44-1.º, nos escritórios da firma Palhares, Almeida & Silva, Lda. escreveu parte do Livro do Desassossego.

 

  

Na Rua da Vitória, n.º 53-2.º Esqº, durante a década de 20, Pessoa trabalhou nos escritórios de Frederico Ferreira & Ávila, Ld.ª. Na Rua de S. Paulo, n.º 117 funcionavam os escritórios da Toscano & Cruz, Lda., onde foi correspondente a partir de 1920. Na Rua da Assunção, no 2.º andar do número 42, era a sede da firma Félix, Valladas & Freitas, Ld.ª, onde conheceu, em 1919, Ophélia Queiroz. No 2.º andar do n.º 58 existiu a sede da editora Olisipo, dirigida por Fernando Pessoa e por seu primo Mário Nogueira de Freitas, entre 1920 e 1923, e onde publicou os seus English Poems I e II e English Poems III.

 

No 1.º andar do n.º 71 da Rua da Prata existiam os escritórios da joalharia Moitinho, onde trabalhou de 1924 a 1935.  No 3º andar do nº 75 da Rua da Betesga, funcionava  a firma Lima Mayer & Perfeito de Magalhães de que foi colaborador. Passou pela Rua da Madalena, nº 109, onde existiu a primeira sede da Casa Serras e pela Rua Augusta, n.º 228-1.º, onde, de 1934 e 1935, Pessoa trabalhou para Dias Serras, Lda., Importação – Representações. Quantas máquinas de escrever e quantas secretárias, cadeiras, canetas haverá para alimentar leilões e enriquecer colecções?
 

 

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