por Rui Oliveira
Destaques diários
Na Segunda-feira 28 de Maio, o nosso destaque vai para o Maria Matos Teatro Municipal onde na Sala Principal, às 21h30, o colectivo Schwalbe (ver Pentacórdio anterior, dia 24) representa “Schwalbe Cheats”(Schwalbe Engana), repetindo-o no dia seguinte (29/5).
Descrevendo : “… oito performers estão envolvidos num jogo físico … É sugerido que a competição e a agilidade sejam compatíveis com o prazer, mas, na realidade, o jogo gere emoções profundas como o medo, a raiva, o fanatismo e a frustração. Neste espectáculo, o colectivo … experiencia o lado “animal” do ser humano para colocar questões sobre a civilização, a humanidade e os impulsos instintivos. Até que ponto o jogo substitui as guerras que deixamos de fazer? Até que ponto ainda estamos a ser conduzidos por impulsos e instintos primários de sobrevivência?”
O conceito e a interpretação são, pois, de Christina Flick, Melih Gençboyaci, Marie Groothof, Hilde Labadie, Floor van Leeuwen, Kimmy Ligtvoet, Ariadna Rubio Lleó e Daan Simons e a direcção técnica, cenografia e desenho de luz de Joost Giesken e Dave Staring.
Este vídeo reproduz o clima gerado no jogo :
Na Terça-feira 29 de Maio mais um espectáculo do Alkantara Festival 2012 volta a ser uma escolha possível do dia. De facto estreia (permanecendo até Domingo 3) na Sala Estúdio do Teatro Nacional Dª Maria II, às 19h, “Três dedos abaixo do joelho”(Three fingers below the knee) de Tiago Rodrigues, peça que necessita da seguinte introdução :
“No arquivo da Torre do Tombo, Tiago Rodrigues encontrou um arquivo enorme da censura exercida sobre o teatro durante o regime fascista. Entre milhares de textos de teatro submetidos ao exame dos censores do Secretariado Nacional de Informação, Tiago Rodrigues ficou particularmente interessado nos relatórios escritos pelos próprios censores onde explicam os cortes ou proibições de textos e encenações.
A ironia por trás de Três dedos abaixo do joelho (uma “exigência” do regime para a dimensão das saias femininas – Nota redactorial) é que transforma os censores em dramaturgos, usando os seus relatórios como o texto de um espectáculo onde os actores formam uma máquina de censurar poética e absurda. De alguma forma, aqueles que oprimiram a liberdade artística e política do teatro deixaram-nos uma herança que nos pode ajudar a redescobrir o perigo e a importância do teatro na sociedade”.
A encenação e o texto-colagem é de Tiago Rodrigues a partir de relatórios de diversos censores do SNI, redigidos entre 1933 e 1974, incluindo breves fragmentos de textos dramáticos censurados de vários autores, o cenário de Magda Bizarro e Tiago Rodrigues, a canção original “O Gosto do Poder” de Márcia Santos e a interpretação de Isabel Abreu e Gonçalo Waddington.
Outra escolha que, por lapso, não referimos na passada Terça-feira é a estreia no Teatro-Estúdio Mário Viegas (ao Largo do Picadeiro, no Chiado) da produção do TRÊS MAIS UM Teatro intitulada “Destinatário desconhecido”, às 21h (que se repete em Junho às Sextas), cuja apresentação (segundo propósitos confessados) têm a sua génese “na necessidade de despertar nos públicos actuais uma reacção às questões da intolerância nas suas mais variadas roupagens: o fanatismo religioso, o ideológico, o racial, o da diferença de género e o do poder económico”.
A correspondência entre dois amigos e parceiros de negócio constitui a moldura desta história. Max Eisenstein e Martin Shulse têm em comum uma amizade, uma mulher, Griselle (irmã de Max, antiga paixão de Martin e actriz em digressão por uma Europa perigosa) e uma galeria de arte. Max é judeu e encontra-se nos Estados Unidos da América; Martin é alemão emigrado, regressa à Alemanha imediatamente antes da implementação do nacional-socialismo. Resistirá a amizade ao debate ideológico? À corrosão do poder? À traição?
Construída a partir de “Address Unknown” de Kathrine Kressmann Taylor, tem encenação de Ana Paula Eusébio, com cenografia de Rita Azevedo Gomes e interpretação de Ana Paula Eusébio, Carlos Medeiros e Fernando Rodrigues.
Assim se processou a primeira apresentação no Auditório Carlos Paredes :
Na Quarta-feira 30 de Maio, tem lugar o último evento musical da temporada no Salão Nobre do Teatro Nacional de São Carlos quando, às 18h, o Coro do Teatro Nacional de São Carlos sob a direcção musical de Giovanni Andreoli, com Kodo Yamagishi ao piano, acompanhado pelo tenor João Queirós e pelo baixo Simeon Dimitrov entoar a Messa di gloria de Giacomo Puccini, num concerto comentado por Jorge Rodrigues.
É esta a música em audição, neste caso pelo Coral S.Pedro e S.Paulo e a Orquestra Sinfónica Gaetano Donizetti de Gessate, Milão (dir. maestro Perangelo Pelucchi) com o tenor Luigi Frattola e o barítono Riccardo Barattia a 18 Out.2008 (e cuja 2ª parte pode ser ouvida aqui) :
Na Quinta-feira 31 de Maio, também a escolha pode variar segundo o gosto do leitor.
Pode sentir-se atraído pelo regresso aos palcos (e aos discos) no que consideram “uma nova fase da sua carreira” do conjunto Os Madredeus, que às 21h no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém se dispõe a revisitar a sua carreira desde o clássico Os Dias da Madredeus (1987) ao recente Metafonia (2008), mas sobretudo a apresentar o novo álbum Essência, tido como um retorno ao estilo original do grupo.
Com a voz de Beatriz Nunes, ouvir-se-á a guitarra clássica de Pedro Ayres de Magalhães, os sintetizadores de Carlos Maria Trindade, os violinos de Jorge Varrecoso e António Figueiredo e o violoncelo de Luis Clode.
Eis um excerto longo do novo CD com entrevistas, mas cuja versão integral se pode ouvir aqui :
Os ouvintes preferenciais da música erudita poderão deslocar-se à Fundação Calouste Gulbenkian assistir ao encerramento da temporada 2011/12 com o Concerto Ravel II com que a Orquestra Gulbenkian sob a direcção de Lawrence Foster homenageia o compositor francês de origem basca, daí designarem o concerto A hora espanhola.
Com este nome é aliás essa a “peça forte” da sessão pois haverá a encenação dessa comédia musical em um acto estreada em 1911, com libreto de Franc-Nohain, participando nela a soprano Christine Tocci (Concepción), os tenores Gilles Ragon (Gonzalve) e Andreas Jaeggi (Torquemada), o barítono Luís Rodrigues (Ramiro) e o baixo Robert Holzer (Don Iñigo Gomez), numa concepção cénica de Rosetta Cucchi.
No Grande Auditório, às 21h (com repetição no dia seguinte às 19h), ouvir-se-á então de Maurice Ravel L’heure espagnole (com encenação), Rapsodie espagnole, Pavane pour une infante défunte, Alborada del gracioso e Boléro.
É possível assistir a uma reprodução integral de L’heure espagnole na versão apresentada em 1987 no Festival de Glyndebourne (em East Sussex, Reino Unido) dirigido por Frank Corsaro com a “The London Philharmonic” (dir. Sian Edwards) e os cantores Anna Steiger (Concepcion), François Le Roux (Ramiro), Rémy Corazza (Torquemada), Thierry Dran (Gonzalve) e François Loup (Don Inigo Gomez) em :
Na Sexta-feira 1 de Junho, são de novo as iniciativas do Alkantara Festival 2012 os polos do interesse possível deste dia, até pela sua diversidade.
Quem fôr à Sala de Ensaio do Centro Cultural de Belém, às 19h, verá o nono projecto da dupla coreógrafa Sofia Dias e Vítor Roriz que chamaram “Fora de qualquer presente” (Out of any present) e cujas criações “podem ser lidas como uma pesquisa contínua, que combina liberdade formal com uma metodologia rígida, modelando o espaço poético onde o movimento rigoroso pode encontrar-se com as emoções e o som”.
A direcção e interpretação são de Sofia Dias e Vítor Roriz, o som de Sofia Dias, com colaboração artística de Catarina Dias (imagens em cena) e Filipe Pereira como convidado.
O tema justificam-no : “ É preciso partir. Ir para fora e encontrar na exterioridade – matéria. Para um fora que não é geográfico nem se concilia com a clássica narrativa da viagem ou com o êxodo face à aparente falência do presente. O movimento dá-se noutro sentido. Trata-se de provocar um distanciamento que nos devolva um olhar. E que permita ao mesmo tempo recolher partes assimétricas, fragmentos supostamente inconciliáveis, e forçá -los ao encaixe uns nos outros, de forma a produzir morfologias insólitas, convocar improbabilidades, tendo em conta uma urgente necessidade de multiplicidade”.
No Sábado 2 de Junho, nova iniciativa do Alkantara Festival 2012 pode concitar as atenções.
Trata-se da apresentação na Sala Principal do Teatro São Luiz, às 21h, de “Madame Plaza” com coreografia de Bouchra Ouizguen, música de Ahat de Youssef El Mejjad e Akegarasu de Shin-Nai e interpretação de Kabboura Aït Ben Hmad, Fatima El Hanna, Bouchra Ouizguen e Naïma Sahmoud. Repete no dia seguinte (3/5) à mesma hora.
Tema : Quatro mulheres. Bouchra Ouizguen, coreógrafa de Marraquexe com um historial tanto na dança oriental como na dança contemporânea europeia. E depois, Kabboura Aït Ben Hmad, Fatima El Hanna e Naïma Sahmoud, conhecidas como aïtas: mulheres que actuam em celebrações, casamentos e clubes nocturnos, trazendo canções de dor, perda e amor impossível – poderíamos chamar-lhes blues marroquinos ou, porque não, fado. As aïtas gozam de uma reputação ambígua, sendo admiradas pelas suas habilidades musicais mas também desprezadas devido ao erotismo implícito nas suas canções.
As quatro encontram-se pela primeira vez no clube Madame Plaza em Marraquexe. “Madame Plaza“ é um encontro fascinante de vozes e corpos, de duas culturas urbanas, para além dos clichés da contemporaneidade e do folclore, radicalmente situado no imediato, no aqui e agora. Um espectáculo que “se revela lentamente, frágil e orgulhoso, com as mãos abertas e a força do humor”.
Esta foi a sua representação no encerramento do Festival “On Marche” de Marraquexe em 2010 :
Os que prefiram a criação musical podem optar pelo Centro Cultural de Belém que no seu Grande Auditório, às 21h, dá Carta branca a JP Simões, cantor e compositor, colaborador dos Pop dell’Arte, os Belle Chase Hotel e o Quinteto Tati, com três álbuns editados (o último “Onde Mora o Mundo”, 2010 em parceria com o compositor Afonso Pais).
O espectáculo, com direcção musical e arranjos de Tomás Pimentel e JP Simões, intitula-se A Vida Ilustrada pois “imagina-se que cada canção equivale a uma crónica, inflamada ou melancólica, das que vão povoando os dias e enchendo as páginas das revistas de actualidades … Este é o ponto de partida para um concerto literalmente ilustrado, pretexto para a criação de novas canções e oportunidade para a reunião de novos e velhos cúmplices …”.
Do seu último CD retiramos “A Marcha dos Implacáveis” :
No Domingo 3 de Maio é ainda o Alkantara Festival 2012 a tentar salvar o dia mostrando no Teatro Maria Matos, na Sala Principal (com bancada) às 19h, a criação da companhia Dood Paard de Amsterdão “Othello (bye bye)”, um espectáculo criado pelos actores Kuno Bakker, Gillis Biesheuvel e Chaib Massaoudi e pelo técnico René Rood sobre o texto de William Shakespeare. (repete na Segunda 4/6 à mesma hora)
Baseado numa nova tradução dos intérpretes, o texto de Othello é simultaneamente contemporâneo e fiel à versão original, resultando num espectáculo arrojado e com múltiplas camadas, onde os temas do ciúme e da xenofobia se tornam evidentemente desconfortáveis. Vestidos com ceroulas e lenços coloridos que os distinguem enquanto personagens, Kuno Bakker e Gillis Biesheuvel encarnam a história do ciumento general mouro manipulado para acreditar que a sua esposa Desdémona o trai. Para tal, são assistidos pelo actor holandês-marroquino Chaib Massaoudi. As cenas alternam entre o demonstrativo e o irónico, sempre rematadas com uma dose de humor slapstick. Incorporando tanto uma linguagem comum como a lírica poética de Shakespeare, os actores apresentam-se num pequeno palco de tábuas soltas que tanto lembram um barco como uma caixa de Pandora.
Vejam-no neste pequeno clip :
Os amantes de shows de grande multidão têm sempre a encerrar o dia (e a semana) o fecho do “Rock in Rio” no Parque da Bela Vista a partir das 16h. A variedade dos artistas presentes é tal, até em previsível qualidade das respectivas apresentações, que não a abordamos aqui, deixando aos leitores a consulta da programação pública http://rockinriolisboa.sapo.pt/.
Por ser uma originalidade deste ano permitiríamo-nos contudo sugerir a passagem pela recém-criada Rock Street por se tratar de uma rua cenográfica inspirada em Nova Orleães nos Estados Unidos da América que irá acolher actuações de artistas consagrados do mundo do jazz e dos blues. Lillian Boutté, Antwerp Gypsy Ska Orkestra, Melech Mechaya, TJ Johnson, Rat Swinger, Cais do Sodré Funk Connection ou Cristian Reyes são alguns dos espectáculos anunciados.
Sendo menos conhecidos do grande público, mostramos-lhe p.ex. Lillian Boutté interpretando “Am I Blue” celebrizado por Billie Holiday (ou ouvi-la em “Down in Honky Tonk Town” com a Old School Band em 1983 aqui ) :