À UMA DA MANHÃ, MAIS UM FILME PORTUGUÊS – “ROSA DE ALFAMA”

 

Continuamos a apresentar filmes portugueses realizados entre as décadas de 30 e 50 do século XX.

 

Não será uma galeria exaustiva, mas julgamos que os filmes apresentados proporcionarão uma boa amostragem do que naquele período se produzia. E se na literatura o regime deixava que circulassem alguns livros mais ousados, o cinema, arte de massas, era alvo de uma atenção especial. Não só era suprimido tudo o que pudesse ser considerado subversivo, como eram cortadas cenas onde os “princípios da moral instituída” fossem, de algum modo, feridos. Beijos na boca, só para darmos um exemplo, eram coisa vedada.

 

Rosa de Alfama, realizado por Henrique Campos em 1953, procura já fugir à tipologia da comédia ou do drama como eram entendidos na década anterior. Há já mesmo tímidas influências hollywoodescas insinuando-se no cenário tipicamente lisboeta.  Pela abundância de canções incluídas, Rosa de Alfama é aquilo a que hoje se chama um «musical» – uma «opereta cinematográfica», como se diz no genérico.

 

A história é um melodrama popular ambientado em Alfama: uma jovem órfã é recolhida por uma família de pescadores e criada pelo pai viúvo com os seus dois filhos, Renato e José. Mas Renato seduz Rosa e engravida-a recusando-se a assumir a responsabilidade dos seus actos.  Só José, que se prontifica a casar com a rapariga e a assumir a paternidade da criança, poderá salvar aquela família…

 

Uma certa teatralidade, um certo empolamento dramático nos diálogos, poderão parecer deslocados numa época em que o novo cinema português espreitava já a sua oportunidade para surgir. Mas reconheçam-se os méritos inegáveis, como por exemplo a excelência da voz de Alberto Ribeiro, bem como a qualidade musical de algumas das canções que interpreta.

 

Alberto Ribeiro, Mariana Vilar, Alves da Cunha, Alves da Costa, Aura Abranches, Costinha, Barroso Lopes, o próprio realizador, Henrique Campos, dão corpo a uma história simples, passada entre gente simples, mas cujo sentido de respeito pelas convenções sociais é elevado. A Comissão de Censura lá estava atenta e pronta a cortar excessos de «realismo»…

 

Na próxima noite, à uma hora em VAMOS AO CINEMA – “Rosa de Alfama”.

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