CARTA DE VENEZA – 10 – por Sílvio Castro

 

 

“A Copa América de barcos a vela em Veneza”

  

Realizou-se em Veneza, de 10 a 20 de Maio, a segunda etapa – em seguida aquela de uma semana anterior tida em Nápoles – na sua edição número 34, da mais antiga das competições esportivas, a America’s Cup. Tudo isso depois de passados 20 anos das grandes empresas do Moro di Venezia em águas estadunidenses.

 

A Copa América foi inaugurada em 22 de agosto de 1851 num desafio entre o Royal Yacht Squadron, forte nas suas quatorze embarcações, e o New Iork Yacht Club, defendido principalmente pelo seu schooner “America”.

 

Esta primeira edição se limitava a um só percurso em redor da Ilha de Wight, no final da qual saiu vencedora América contra a poderosa rival Aurora. Nessa primeira edição a competição se chamava “Copa das Cem Guineas“, denominação referida ao valor material do trofeu em jogo. Porém, logo depois da grande vitória da prima edição, os estadunidenses resolveram mudar o nome da competição, fazendo-o em homenagem à barca vencedora, América, nome mantido até hoje. A hegemonia dos primeiros vencedores se manteve por 132 anos, até que tudo mudou, em 1983, quando a vencedora foi a equipe dos velistas australianos de Alan Bond.

 

 A disputa pela Copa America, na sua atual edição, contará com um ano e meio de regatas, concluindo-se em São Francisco da California no final de setembro de 2013. Terminada a histórica etapa de Veneza, a Copa se transfere para Newport, no estado norte-americanodo Rhode Island, justamente aonde nasceu a competição, isso a partir de 26 de junho próximo. Depois será a vez de San Francisco.

 

 A Copa América em Veneza encontrou uma sua sede ideal. Toda a cidade se mobilitou para que o evento marcasse um acontecimento histórico. O centro do evento foi, como não poderia deixar de se-lo, o monumental Arsenal, inteiramente restaurado. Com a sua face renovada, a grande fábrica veneziana, sede da primeira grande indústria naval da história do ocidente, a mesma que nos séculos XIV e XV fornecia à Sereníssima República de Veneza suas naves que dominavam o Adriático e se extendia para o Oriente com suas vitoriosas navegações mediterrâneas, esta grande fábrica abriu seu amplo território para hospedar barcas e catramanos em luta pelo título da 34ª. edição da America’s Cup. Barcas provenientes de todas as partes do mundo encontraram então uma hospedagem ideal. A Darsena Grande – o grande espaço aquático interno da estrutura histórica – por 8 dias recolhia então os muitos bólides do mar empenhados nas diversas provas da Copa. Com um prólogo ocupante dos dois primeiros dias, provas especiais em disputa pelo Trofeu Cidade de Veneza, as disputas propriamente ditas tomavam as águas venezianas em dois campos de regatas : o 1° aquele em mar aberto (Lido 1); o 2° (San Marco 2), na laguna  veneziana. No final de cada dia, apesar das presenças alternadas entre um forte e frio vento de bora e de um borin mais doce, as barcas disputantes reentravam em grande serenidade no acolhedor ambiente da Darsena Grande do Arsenal.

 

 Os venezianos, sempre saudosos das festas maritimas, acorriam aos milhares, ocupando os espaços privilegiados, em particular aquele da Fábrica histórica. A praça de San Marco lotava-se completamente, com a curiosidade de venezianos e turistas de muitíssimas línguas ansiosa de participar da grande festa que surgia das águas da laguna. Outros, mais convenientemente  apetrechados para a ocasião, gozavam o espetáculo diretamente de suas barcas que lotavam os espaços a elas destinados, da Punta della Salute, até a ilha da Giudeca e aos embarcadeiros da ilha de San Giorgio. Assim a cidade de Veneza abraçava os seus hóspedes veleiros que, provados pelas competições quotidianas, reentravam com calculada lentidão numa procura serena da luminosa paisagem citadina, ainda mais luminosa se tomada de uma posição  entre céu e água.

 

 O sindaco de Veneza (e também velista), Giorgio Orsoni, na inauguração da grande festa encontrou palavras coerentes para sintetisar o significado da histórica etapa veneziana da 34ª. edição da Copa América:

 

 “A história de Veneza e a inovação dos materiais, o nosso passado e a tecnologia aplicada à competição, a tradição e os eventos internacionais; o ritmo lento do nostro viver quotidiano e a extraordinária velocidade da gara; o Arsenal e os espaços hiper-tecnológicos dos teams, o passado e o futuro. Nestes contrapontos está a essência e o maior sentido da America’s Cup World Series em Veneza. Contrastes que somente nesta cidade podem gerar beleza.”

 

 Terminadas as muitas regatas, os milhares de venezianos que acorreram jubilosos à grande festa continuaram e continuarão por muitos dias a relembrar as belíssimas disputas encetadas pelas velas representantes dos mais variados países. E em particular a mais significatsiva presença final da etapa veneziana da 34ª. Copa América: as italianas e magníficas velas da Luna Rossa Swordfish e da Luna Rossa Piranha (esta marcada por uma sutil conotação do universo brasileiro).

 

 Uma grande satisfação dos apaixonados pela história da Copa América de vela se revela sempre pelo conhecimento do album de ouro da competição. Ei-lo, em seguida, com as datas,  o lugar no qual se realizou a competição (quando a sede não é aquela habitual), o nome da barca vencedora e o da segunda classificada, mais o resultado final da gara entre elas:

 

1851 (Cowes, GB) – América (USA) vence Aurora (Inglaterra) 1-0; 1870 (New Iork) – Magic (USA) v. Cambria (Inglaterra) 1-0; 1871  Columbia (USA) v. Livonia (GB) 4-3; 1876  Madeleine (USA) v. Countess of Dufferin (Canadá) 2-0; 1881  Mischief (USA) v. Atalanta (Canadá) 2-0; 1885  Puritan (USA) v. Genesta (Inglaterra) 2-0; 1886  Mayflower (USA) v. Galatea (GB) 2-0; 1887  Volunteer (USA) v. Thistle (Escócia) 2-0; 1893  Vigilant (USA) v. Valkyre (GB) 3-0; 1895  Defender (USA) v. Valkire (GB) 3-0; 1899  Columbia (USA) v. Shamrock (Irlanda) 3-0; 1901  Columbia (USA) v. Shamrock (Irlanda) 3-0; 1903  Reliance (USA) v. Shamrock (Irlanda) 3-0; 1920  Resolute (USA) v. Shamrock (Irlanda) 3-2; 1930  (Newport, USA),  Enterprise (USA) v. Shamrock (Irlanda) 4-0; 1934  Raimbow (USA) v. Endeavour (GB) 4-2; 1937  Ranger (USA) v. Endeavour (GB) 4-0; 1958  Columbia (USA) v. Sceptre (GB) 3-1; 1962  Weatherly (USA) v. Gretel (Austrália) 4-1; 1964  Constellation (USA) v. Sovereign (Inglaterra) 3-1; 1967  Intrepid (USA) v. Dame Pattie (Austrália) 4-0; 1970  Intrepid (USA) v. Gretel (Austrália) 4-1; 1974  Courageous (USA) v. Southern Cross (Austrália) 4-0; 1977  Courageous (USA) v. Austrália (Austrália) 4-0; 1980  Freedom (USA) v. Austrália (Austrália) 4-1; 1983  Austrália (Austrália) vence Liberty (Usa) 4-3; 1987  (Fremantle, AUS), Stars and Stripes (USA) v. Kookaburra (Aus)  4-0; 1988  (San Diego, USA)  Stars and Stripes (USA) v. K21 (Nz) 2-0; 1992  América 3 (USA) v. Il Moro di Venezia (It) 4-1; 1995  New Zeland (Nz) v. América (USA) 5-0; 2000  (Auckland, Nz), New Zeland (Nz) v. Luna Rossa (It) 5-0; 2003  Alinghi (CH) v. New Zeland (Nz) 5-0; 2007  (Valência, Espanha), Alinghi (CH) v. New Zealand (Nz) 5-2; 2010  Bnw Oracle (USA) v. Alinghi (CH) 2-0; 2013 ?? v ??  ?-?.
  

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