Globalização e Desindustrialização – 4ª Série

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

 

Capitulo IV. 2. Globalização e Desemprego: as desvantagens da integração dos mercados

 

 

Michael Spence

 

MICHAEL SPENCE is Distinguished Visiting Fellow at the Council on Foreign Relations and the author of The Next Convergence: The Future of Economic Growth in a Multispeed World [1]. He received the Nobel Prize in Economics in 2001. His Web site is www.thenextconvergence.com [2].

 

A globalização é o processo pelo qual os mercados realizam a integração do mundo inteiro. Ao longo dos últimos 60 anos, este processo acelerou-se fortemente como resultado do facto de que as novas tecnologias e as capacidades de gestão terem reduzido os custos de transporte e os custos de transacção e também devido ao facto de se terem também reduzido também as tarifas e outras barreiras artificiais ao comércio internacional. O impacto foi impressionante. Com este processo há cada vez mais países em vias de desenvolvimento a registarem taxas de crescimento sustentado de 7-10%; 13 países, incluindo a China, têm crescido em mais de 7% ao ano durante 25 anos ou mais. Embora isto não tenha sido claro desde o início, o mundo agora encontra-se apenas um pouco acima do ponto médio num processo longo em que os níveis de rendimento nos países em desenvolvimento têm sido convergentes para com os níveis dos países desenvolvidos. Actualmente, o impacto das economias emergentes sobre a economia mundial e sobre as economias avançadas está a aumentar rapidamente.


Até há cerca de uma década atrás, os efeitos da globalização sobre a distribuição da riqueza e sobre o emprego foram em grande parte benignos. Em média, as economias avançadas foram crescendo a uma taxa respeitável de 2,5 por cento, e na maioria delas, pareciam estar a aumentar quer a amplitude quer a variedade de oportunidades de emprego nos vários níveis de ensino. Com a ajuda externa, mesmo os países devastados pela segunda Guerra Mundial recuperaram. Os bens s importadas tornaram-se mais baratos com a integração dos mercados emergentes na economia global, o que veio a beneficiar os consumidores de todos os países, desenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Mas como os países em desenvolvimento se tornaram economicamente mais importantes e mais ricos,  as suas estruturas económicas mudaram em resposta às forças das vantagens comparadas: elas moveram-se na cadeia global do valor acrescentado. Agora, os países em desenvolvimento estão cada vez mais a produzir o tipo de componentes de elevado valor acrescentado que, desde há 30 anos, eram do exclusivo domínio das economias avançadas. Esta subida é uma alteração permanente e já claramente irreversível. Com a China e a Índia – e estes dois países juntos representam quase 40 por cento da população mundial — estão resolutamente a subir essa escada, as mudanças económicas estruturais que se estão a dar nos países emergentes virão a ter ainda mais impacto sobre o resto do mundo, no futuro.

 

Reafectando algumas partes das cadeias globais de produção, a globalização tem gerado mudanças nos preços das mercadorias, nas estruturas de trabalho e nos salários quase por toda a parte. É assim que se está a mudar a estrutura das economias de país a país, com consequências que afectam os diferentes grupos dentro destes países de modo diferente. Nas economias avançadas, está a mudar a redistribuição dos rendimentos e está a mudar igualmente as oportunidades de emprego.


Na maior parte do período do pós-guerra, os decisores políticos dos Estados Unidos assumiam que o crescimento e o emprego andavam de mãos dadas, e os resultados da economia dos Estados Unidos confirmavam em grande medida essa hipótese. Mas a evolução estrutural da economia global de hoje e os seus efeitos sobre a economia americana significam que, pela primeira vez, o crescimento e o emprego nos Estados Unidos começam a divergir. As principais economias emergentes estão-se a tornar mais competitivas em áreas em que a economia americana. foi historicamente dominante, tais como a concepção e o fabrico de semicondutores, produtos farmacêuticos e serviços das tecnologia de informação.


Ao mesmo tempo, muitas oportunidades de emprego nos Estados Unidos estão-se a deslocar de sectores que estão a ter o maior crescimento para aqueles que estão na verdade a crescer menos. O resultado deste processo é o crescimento das disparidades de rendimento e de emprego em toda a economia americana com os trabalhadores altamente qualificados a desfrutarem de mais oportunidades e os trabalhadores com menos formação a enfrentarem uma redução no emprego e com os rendimentos estagnados. O governo dos EUA deve urgentemente desenvolver uma política de longo prazo para lidar com esses efeitos sobre a distribuição e sobre suas estruturas institucionais e restaurar a competitividade e o crescimento para a economia americana.

 

(continua)

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