DIÁRIO DE BORDO, 31 de Maio de 2012

 

Duas coisas estão a ficar cada vez mais claras. Uma, a crise vai alargar-se cada vez mais, por essa Europa fora. Pelo menos todos os países da zona euro vão levar com ela, em grau ainda maior. Segundo, para além de afectar seriamente a economia dos países onde ela toma domina, ela vai continuar a provocar  desencadear alterações políticas muito sérias.  Os resultados eleitorais em vários países ocorridos no princípio do mês terão sido apenas o início, e uma pálida imagem do que está para vir.


O que está a ocorrer em Espanha é muito sério. A rejeição pelo Banco Central Europeu da pretensão do governo espanhol de que o encargo do refinanciamento dos bancos espanhóis passasse para aquele banco central  terá sido um grande revés para Mariano Rajoy. Conforme assinala Andrew Duff no seu comentário para o Eurointelligence de ontem (saído n’A Viagem dos Argonautas hoje às 8.30) a Espanha arrisca-se a substituir a Grécia como principal foco de atenções, nesta saga negativa da crise europeia. O que é uma má notícia para Portugal, pois, apesar de todas as notas pretensamente positivas atribuídas de vários lados, incluindo as dadas pelas parcas, perdão, pelas agências de notação, que têm sido publicitadas.


A intervenção de François Hollande, levantando a hipótese de uma intervenção militar na Síria, é, na realidade, um sintoma da sua preocupação com o estado de coisas no seu país, e na Europa. Essa intervenção constituiria um balão de oxigénio para o seu governo, o qual, poucos dias depois de iniciar o seu mandato, já se sente na necessidade de rever a meta para o défice orçamental para 2013 e de dar garantias de que não vão ocorrer mudanças drásticas em relação às promessas feitas na campanha eleitoral.


A Alemanha aspira evidentemente a um papel de condução dos negócios da UE cada vez maior. O Reino Unido e outros países (como será com Portugal no futuro?) mantêm-se um tanto á margem. A França vai estar cada vez mais na berlinda. Mas será que a crise também não vai chegar à Alemanha? É uma perspectiva que não se pode afastar, embora para muitos possa parecer excessivamente especulativa. 

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