CORVOS NO VATICANO ? – por Lola Galán

Comentando o texto de Pablo Ordaz “Ninho de Corvos no Vaticano”, a jornalista do El País, Lola Galán, escreveu um artigo que nos parece indispensável acrescentar a este dossiê:

 

Corvos no Vaticano? Maledicência e contas ajustadas nos meios de comunicação? Peccata minuta perante o historial de escândalos do Estado pontifício, um território de apenas meio quilómetro quadrado onde as lutas de poder e a ambição sem limites criaram um microclima insano durante séculos. Não é preciso recuar até aos tempos dos Bórgias (transformados pela sua fama de envenenadores nos bodes expiatórios de toda a depravação do Renascimento italiano), para encontrar episódios sombríos  neste suposto centro da espiritualidade cristã. Em 28 de Setembro de 1978 morria com 65 anos João Paulo I, o italiano Albino Luciani, 33 días após ter sido eleito Papa. Oficialmente, morreu de um infarto, mas o cadáver de um pontífice não pode ser submetido a autópsia. As teorías da conspiração dispararam, chegando ao ponto de atingir o bispo Paul Marcinkus, na altura responsável pelo IOR (Instituto de Obras de Religião), o banco vaticano. Negara-se João Paulo I a encobrir o escândalo que sobrevoava as finanças vaticanas? 

 

Os dados  conhecidos tornam pouco plausível esta hipótese, embora seja certo que Marcinkus, um bem fornido prelado norte-americano de origem lituana, que se transformara na sombra de Paulo VI, tivesse motivos para lamentar a morte deste. A sua relação com Michele Sindona, um banqueiro ligado à Mafia, deseenadeou as suspeitas sobre o manuseamento de dinheiro ilícito procedente de Estados Unidos. O escândalo rebentou em 1982, com a bancarrota fraudulenta do Banco Ambrosiano, uma instituição católica da qual o Banco Vaticano era o principal accionista. A Santa Sé aceitou pagar milhões de dólares em compensações a entidades eestrangeiras afectadas pela falência do Ambrosiano. Roberto Calvi, presidente do banco, e Sindona, optaram, supostamente, por se suicidar. Marcinkus encontrou, no entanto, a protecção de João Paulo II, sucessor do papa Luciani, quelo manteve no seu cargo até 1989.

 

Um ano antes de se ter consumado  a bancarrota do  Ambrosiano, o Papa polaco sufreu um  atentado gravíssimo, que as sucessivas investigações judiciais, e o julgamento  posterior não conseguiraam esclarecertotalment del todo. Outro tanto se pode dizer do assassínio, às mãos de um guarda suíço do comandante desta histórica tropa papal, Alois Estermann, no próprio dia em que era  confirmado no seu posto, em Maio de 1998. O Vaticano manobrou melhor este assunto explosivo, mas também não conseguiu evitar a gigantesca onda de rumores gerada em torno dele. Eram os anos em que João Paulo II viajava pelo mundo e recebia no Vaticano, como amigo pessoal, o sacerdote e um dos mais queridos colaboradores do Papa. Com grande discreção, trazia dinheiro para os cofres sempre exaustos da Igreja, e enchia com multidões as ceremónias religiosas presididas por Wojtyla. Porém, a conduta do mexicano estava já nas bocas do mundo.Ex- legionarios descreviam-no como um tipo cínico e amoral, e como um pedófilo declarado.

 

João Paulo II resistiu até à morte na Primavera de 2005, a que se tomassem medidas contra Maciel, que abandonara un ano antes seu posto à frente dos legionários, e que morreu em 2008, com 89 anos, sem ser incomodado por ninguém. Joseph Ratzinger, que sucedeu a Wojtyla na condução da Igreja, com a promessa de acabar com a corrupção interna, mandou arquivar a investigação sobre Maciel. Mas após a morte do fundador, ficou bem claro o seu historial sexual de um depravado sem atenuantes.

 

 

 

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