O Dicionário de Educadores Portugueses” ( ASA, 2003), de onde temos vindo a retirar informações sobre os Pedagogos Portugueses, começa assim o seu artigo:
“Se algum qualificativo cabe por direito a George Agostinho da Silva, esse é indubitavelmente o de “educador” ou de “pedagogo” no mais elevado sentido da palavra”.
Nasceu em 1906, na cidade do Porto e faleceu em Lisboa em 1994. Licenciou-se em Letras em 1928. Se pensarmos pedagogia como “irrupção virtuosa de boas qualidades morais através da audição, da presença, do debate, do exemplo de um “mestre”, então toda a actividade cultural de Agostinho da Silva pode estatuir-se como a de um pedagogo”.
Ressaltam duas fases no pensamento do autor:
– entre 1928 e 1944, ano em que partiu para o Brasil, foi um defensor da pedagogia “moderna”. Este período foi
intenso: doutoramento em 1930, investigações em Paris, na Sorbonne (1933-35), exame para professor na Escola Normal Superior de Lisboa, colaboração com a Seara Nova, fundação do Centro de Estudos Filológicos da Universidade Clássica de Lisboa, investigações sobre mística espanhola no Centro de Estudos Históricos de Madrid. Foi demitido por se ter recusado a assinar um documento em que se comprometia não pertencer a associações secretas.
Tendo assim ficado impossibilitado de exercer as funções no interior do Estado, lançou-se em iniciativas dirigidas ao grande público: edição dos Cadernos “Iniciação”, dos Cadernos “Antologia”, tradução para português de obras clássicas e publicação de biografias ilustres.
– em 1944 trabalhou no Brasil e foi naturalizado brasileiro em 1958, tendo fundado a Universidade Federal do Estado de Paraíba, lecionando várias matérias e tendo uma intervenção importante a nível universitário. É apontada a sua ida para o interior do Brasil como o início de uma mudança no seu pensamento, ao encontrar um Portugal puro, do século XVI. E diz que foi uma “abertura de mim próprio, eu fui outro”. E aponta-nos “O Dicionário”: “Será esta realidade social, o comunitarismo gregário entre os seus habitantes, a permanente disponibilidade para a interajuda, a capacidade de improviso de quem se encontra longe dos grandes centros, a ausência de grandes rotinas, o ambiente de rituais de festas existentes nos povos rurais, que marcarão duradouramente Agostinho da Silva e estatuirão para ele como o centro histórico da I Dinastia Portuguesa. A partir de então Agostinho da Silva considerará sempre este período histórico como o núcleo fundamental imaginante por que Portugal encontrou o seu lugar no mundo”.
Com este pensamento por detrás virá a preconizar a conjugação das capacidades individuais de cada criança com a sociedade actual, preparando-os para a vida laboral e a intervenção pública, deixando emergir o “instinto criador”, através de trabalhos de grupo, em que o professor é um organizador, numa escola sem castigos nem prémios.
Voltando a Portugal, foi convidado a escrever “Educação em Portugal” que só vem a público em 1989, por o editor o ter considerado demasiado filosófico. Nele afirma que a escola é uma instituição totalmente bloqueada, perversora da natureza solidária e generosa da criança, instituindo-se como uma “fábrica de fortes”.
Gostava de ir às escolas falar com os alunos, para sacudir, para provocar, para que as crianças e os jovens vissem que estão a entrar num mundo para o qual teriam que encontrar uma solução. Queria ensinar, mas não modelar gente. Acompanhei-o em várias situações e pude comprovar o efeito nos ouvintes do fascínio da sua voz cava mas suave, da sua firmeza mesclada com ironia, da certeza com que difundia os seus conceitos. Deixava a todos a mensagem de que deveriam acreditar nas suas próprias capacidades, serem criativos e pôr em dúvida as certezas adquiridas. Todos ficavam a pensar. Que mais podemos querer?