Divorciar não é deixar de amar (ensaio de etnopsicologia da infância) – (2) – por Raúl Iturra

Este substantivo faz-me lembrar outro padecer dos filhos: a custódia deles, caso forem menores de idade. Manda a lei que os varões ficam com o pai, se o progenitor tiver esse anseio, até os dezasseis anos, e as raparigas, com quem a deu a luz até os catorze anos. Nos casos que tenho analisado, ficam sempre com a mãe uma grande percentagem dos descendentes. No entanto, no entanto, praticamente não acontece nestes dias, os filhos são emancipados aos dezasseis, varão ou fêmea, ou simplesmente vão fora de casa por falta de pais e com a dor que cause em eles essa separação. Não foi por casualidade que escrevi um dia um texto intitulado o som de um ninho vazio! Quem sabe mais destas histórias é Anália Cardoso Torres, provado nos seus dois melhores livros, de entre tantos que tem escrito: Divórcio e, Portugal. Ditos e Interditos, 1996, publicado pela CELTA Editores, Oeiras; e Vida conjugal e Trabalho, 2004, mesma editora, um ensaio aprofundado e circunscritos a casos que ajudam a entender melhor os factos do primeiro, apesar de ser o do divórcio, o seu melhor livro. Foi assim que eu pensei na temática sobre a qual hoje escrevo.

Há também os homens abandonados e trocados, nos sentimentos da, já a sua antiga mulher. Homens conhecidos por mim em Cambridge, homens que viviam no desespero de não saber o que fazer com as suas crianças. Foi organizada uma associação para colaborar uns com os outros, a LonelyParents Union à qual também se associaram senhoras, bem mais espertas na manutenção do ninho vazio. Todos com trabalho na universidade, o que levava a deslocação sistemática para outras academias no UK o fora do país. Quem tiver que se ausentar, levava as suas crianças a esse ninho, tomava conta dos deles e de dos progenitores ausentes. A relação era com reciprocidade: quem tiver tomado conta das crianças de um, ao ter que se ausentar, levava à prole ao dito ninho vazio do amigo. Para que a associação puder funcionar bem, era antes preciso juntar pais e crianças para uma festa com bolos, leite e chá. Formas de defesa que pretendi trazer a Portugal, mas há a funcionalidade dos avôs, dos tios, da família alargada ou dos vizinhos que prestavam os seus serviços com bondade e simpatia.

 

Se divorciar-se não é deixar de amar, esse sentimento se esconde do ridículo de andar a pedir colaboração a outros. Muitos divorciados acabaram por nunca mais se ver. Conheço, entre as minhas indagações, sobre a temática, um casal de alta alcunha, ele foi-se embora com outra mulher, arrependeu-se do caso e solicito a mãe dos filhos, uma artista, para tornar a viver juntos. A Senhora, muito digna, não respondeu e solicitou para deixar a sua casa, desejando-lhe sorte nos amores, dando o caso por resolvido. Nunca mais casou nem teve amores com outros. Os seus sentimentos estavam encaminhados para os seus descendentes. É a minha contra prova do acontecido na vida social, em que normalmente a mulher anda trás do pai dos seus pequenos, porque o divórcio não mata o amor, frase criada por mim a partir dos factos observados e vividos que, com a passagem do tempo, passam.

 

Era isto que queria lembrar aos meus leitores  –  sempre que a nova pessoa amada for capaz de aceitar ao antigo parceiro, sem a nova mulher e vice-versa.

 

E a história acaba aqui, por falta de espaço. Porque histórias deste tipo, têm pano para mangas…Eis porque tanto livro é escrito sobre a temática, que, de entre tantos problemas que existem na nossa sociedade, este nunca teve una solução pacífica, excepto com a passagem dos anos…O amor que persiste, se culta, e o amor que morre, deve ser enterrado e nunca mais ver a quem nos causara mal por traição amorosa…

 

Leave a Reply