O resgate, que Rajoy não quer que seja chamado resgate, da Espanha, o país que se segue na escalada vertiginosa da crise que se propaga a países que se julgavam invulneráveis, o desemprego que aumenta por quase todo o lado, a guerra civil na Síria, que é o seguinte à Líbia na lista dos países a desestruturar (o Iémen parece estar também próximo, e o Egipto e a Argélia não estão a salvo) , tudo são episódios de uma transformação, intencional ou não, que se procura impor, senão ao nível mundial, pelo menos em várias zonas do nosso planeta. O capitalismo financeiro prospera, e a pobreza cresce; o fanatismo religioso alastra e a intolerância e a opressão propagam-se. É difícil não sentir isto hoje em dia. Guerras de intensidade mais alta ou mais baixa aparecem ou estão latentes em muitos países.
Não há nenhum país que se possa considerar completamente a salvo. A semana passada, uma agência de notação baixou o rating de bancos alemães e austríacos, por os considerar expostos aos prejuízos de bancos de outros países. Pelo menos foi o pretexto alegado. A Índia, tida desde há anos como um país a atravessar uma fase de crescimento e progresso, afinal está a ser alvo das agências de notação, o seu crescimento económico perde velocidade, as diferenças sociais agravam-se e há fortes sinais de desagregação política. A China também parece estar passar a uma fase de menor crescimento. Os EUA tentam manter-se à parte, na sua fortaleza, favorecidos pela situação geográfica, com uma política assente na sua enorme força militar.
Será o retorno à barbárie? A procura do crescimento interminável, um crescimento exclusivamente económico, com a riqueza concentrada em poucas mãos, uma riqueza que não inclui apenas bens os serviços, mas cada vez mais poderes de opção e decisão, está a desembocar numa especulação financeira desenfreada, sob a capa de um pretenso racionalismo. Esta concentração do que classicamente se designa por meios de produção, afasta grande parte das pessoas, primeiro, dos processos de decisão, e a seguir, da participação mais elementar e básica no processo produtivo. O desemprego maciço é a manifestação concreta mais visível desse afastamento. A destruição da maioria das pequenas e médias empresas é também outro efeito deste processo. Reforçam-se os mecanismos ideológicos que impõem aos estados limitarem-se a acções de policiamento de vigilância dos costumes e defesa da propriedade privada (com diferentes tonalidades, claro).
É cada vez mais urgente procurar outras soluções. Outros paradigmas, como dizem alguns. O primeiro passo é não aceitar os becos sem saídas em que nos metem, evitando os dilemas tipo Passos/Seguro (ontem foi Sócrates/Passos), ou mais do mesmo para dizer de outra maneira. Não ir atrás de soluções mágicas, tipo mais ainda do mesmo, como a que agora parece propor Durão Barroso para a banca: supervisão comum por toda a Europa. Quando se vê a actuação do BCE, fica-se temeroso pelo poderá resultar desta proposta.