DIÁRIO DE BORDO, 14 de Junho de 2012

 

Vários políticos portugueses têm proferido declarações, umas francamente elogiosas,  outras nem por isso, relativamente ao modo aparentemente sereno, para não dizer passivo, sobre o modo como os portugueses têm recebido as políticas chamadas de austeridade.  Algumas dessas declarações, entre as que partem dos partidos do chamado arco do poder (Diário de Bordo julga que a expressão é do comentador-mor Marcelo Rebelo de Sousa), contêm indisfarçadas notas de alívio. Quando se faz o reparo que o professor Oliveira Salazar e a Igreja Católica (as recentes declarações do bispo Januário Torgal não parecem representar a maioria da sua hierarquia), a miúde, brindavam o povo português com declarações desse tipo, incitando à resignação e ao conformismo, assiste-se a notáveis exibições tipo virgens ofendidas.  Seria melhor que, dos vários quadrantes, se procurasse uma analise mais profunda da razão de ser das atitudes tomadas pelos nossos compatriotas. Claro que tudo o que se acaba de dizer não leva em conta que há uma manifesta intenção do tal arco do poder de menorizar as manifestações de protesto, que não têm sido poucas, e têm mobilizado bastante gente, as greves que também têm tido cada vez mais adesão,  e o crescer dos movimentos sociais.


Mas o facto é que o problema não é de agora. Será de recordar o que escreveu em 1908 Miguel de Unamuno em Por Tierras de Portugal y de España, no Epitafio sobre o assassinato do rei D. Carlos, e a ditadura de João Franco:


Y uno y outro, el rey y su ministro, desconocían a su pueblo. Lo cual nada tiene de extraño, porque lo desconocían ― y siguen tal vez desconociéndolo ―los más de los portugueses europeizantes o europeizados, y no lo conocemos tampoco muchos que llevamos algún tempo fijándonos em él y haciéndolo objeto de parte de nuestro estúdio.

El pueblo português tiene, como el galego, fama de ser un pueblo sufrido y resignado, que lo aguanta todo sin protestar más que passivamente. Y, sin embargo, com pueblos tales hay que andarse com cuidado. La ira más terrible es la de los mansos.


Diário de Bordo tem dúvidas sobre se os portugueses são um povo manso. Unamuno, aliás, dá a entender que os acha um povo pouco compreendido, e que as classes superiores o desconhecem. De qualquer modo, vale a pena recordar a sua opinião.

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