Diário de bordo de 15 de Junho de 2012

Nas notícias de hoje, as  senhoras primeiro – Ségolène Royal está a provocar uma crise conjugal no Eliseu e a querida Marine Le Pen diz que “a loucura tem de acabar”: (…)”a França já contribuiu com dezenas de mil milhões para empréstimos à Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha e toda a gente sabe que eles nunca reembolsarão”. Oxalá não se enganasse, mas adiante.  Madonna mostra o rabo em Roma depois de ter mostrado uma mama em Istambul – mal podemos esperar pelo concerto que vem fazer a Coimbra no próximo dia 24 – o que irá ela mostrar ? – a velha  Aeminium não é menos do que  Constantinopla ou do que a capital do Império… Lady Gaga projecta usar um chapéu-gaiola com baratas vivas (como é que ninguém se tinha lembrado ainda de um adereço esteticamente  tão óbvio?) Mário Soares diz que «a Europa está à beira de um precipício» – Passos Coelho, dias atrás, dizia que «Portugal estava à beira de um precipício» – a atracção pelo abismo está a tornar-se recorrente e o arsenal de metáforas dos políticos não parece bem fornecido… A guerra na Síria continua e os massacres não param. 

 

Entre as muitas dezenas de efemérides referentes ao dia de hoje, lembramos duas, em 1922 a chegada ao Rio de Janeiro de Gago Coutinho e de Sacadura Cabral. Faz hoje noventa anos.Tendo saído de Lisboa em 30 de Março, fizeram a primeira travessia aérea do Atlântico Sul. Uma outra, em 1924, Pablo Neruda publica 20 Poemas de amor y una canción desesperada. As efemérides são uma bóia de salvação – todos os dias encontramos datas que merecem ser recordadas; todos os dias se celebram aniversários de seres humanos que nos fazem pensar que o homo sapiens não é sempre o animal lamentável que parece ser – em 15 de Junho de 1752, Benjamin Franklin somando, com uma corda, um papagaio a uma chave e elevando-o a um relâmpago, obteve electricidade. O que seria de nós hoje sem a energia eléctrica? O que seria de nós sem a EDP a meter unha nas nossas facturas? E em 1843, nasceu Edvard Grieg, sem o qual não teria sido criada uma maravilha como Peer Gynt  As más recordações ligadas a esta data são mais do que muitas, mas não queremos falar delas.

Bem sabemos que o rabo de Madonna e o projecto do chapéu de baratas de lady Gaga já iluminaram de beleza este editorial. Pelo sim, pelo não, lavemo-nos de tanta estupidez com a voz de Juan José Torres , declamando-nos a Canção desesperada, que num dia 15 de Junho de há muitos anos, Pablo Neruda publicou. Os seus versos, sim, como Peer Gynt, a ciência de Benjamin Franklin e a odisseia de Gago Coutinho, tornaram o mundo menos sombrio.

 

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