Ataque IN a Bissorã
No dia seguinte das 00h05 as 03h00 o nosso aquartelamento e a vila de Bissorã sofreram ataques do IN.
Atacaram de todas as direcções excepto do lado de Binar (tabanca “da outra banda”) e fizeram uso de quase todos os tipos de armamento: P, PM, GM, Esp. aut. e repet, ML, LGF, Mort 60 e 82. Caíram na área do aquartelamento várias granadas de morteiro e de LGF, felizmente sem consequências.
A forte reacção e posterior perseguição levaram o combate para longe das nossas posições, principalmente do lado da granja e bolanha entre as estradas de Bissorã-Mansoa e Bissorã-Binar.
De madrugada consegui, a muito custo, convencer alguns soldados do pelotão para irmos fazer uma busca ao exterior do arame farpado, e apanhámos uma granada e um frasco de tintura.
De manhã saiu um pelotão que apanhou mais material e à tarde fomos nas Mercedes buscar palmeiras para os abrigos.
Dois dias depois deslocou-se a Bissorã, o tenente-coronel Braancamp Sobral (conhecido como o “Cavalo Branco”) que comandava o aquartelamento de Mansoa.
Contava que, mais dia, menos dia, houvesse coluna militar para Bissau e assim não ia fazer mais operações com a Companhia. Mas isso não aconteceu. Apesar de já ter um substituto, ainda fiz mais duas operações, uma em Passe e outra em Binar.
(1) tenente-coronel na altura do 25 de Abril de 1974, fez parte, com Otelo Saraiva de Carvalho, do Estado-Maior do MFA (Movimento das Forças Armadas), sendo o responsável pelo plano de transmissões.
(*) Deve ler-se: “…com a CArt 643, comandada pelo Cap. Ricardo Lopes da Silveira, e que pertencia ao BArt 645 ‘Águias Negras’.”
Operação “IRÔ
Em 2 e 3Maio65 – A CArt 730 participou na operação “IRÔ, que proporcionou o maior sucesso das NT na Província, e talvez mesmo em todas as outras até aquela data. Capturou-se a maior quantidade de material de sempre, cerca 1 tonelada, por parte da CArt 566, que executou a acção no objectivo e a Companhia montou-lhe segurança e, posteriormente e ainda na acção, executou um golpe de mão à base de IRACUNDA usando como guia um prisioneiro capturado de entre elementos IN que fugiram de MORÉS.
A companhia saiu de Bissorã e estacionou em locais previamente estabelecidos de onde montou um rede de emboscadas em protecção à CArt 566 que executou o ataque à base central do Morés. Pelas 5hH50 do dia 3 após a execução do golpe de mão pela CArt 566, cerca de 20 elementos, vindos do objectivo e cozinha IN localizada perto da posição das NT, caíram na zona de morte, ficando com muitas baixas, não calculadas, e a quem se fez um prisioneiro, que interrogado imediatamente localizou a Base de IRACUNDA, para onde a Companhia seguiu logo após, para execução do golpe de mão.
O IN, alertado pela acção de fogo precedente, abandonou a casa de mato, onde as NT entraram facilmente e capturaram bastante material de guerra. Dentro do acampamento, bem organizado e com uma boa escola, a Companhia sofreu 2 fortes acções de fogo sem consequências.
A resposta rápida e manobra envolvente obrigaram o IN a terminar o fogo, porque apercebendo-se do insucesso, furtou-se imediatamente ao contacto e desapareceu. Foram destruídas a cozinha a casa de mato da base que pela constituição encontrada, denunciavam, sem dúvida, a presença de um numeroso grupo de rebeldes.
Esta foi sem dúvida uma operação extraordinária em resultados. Ninguém esquece que montou-se segurança a uma Companhia, que arrancou cinco cargas de helicópteros de material ao IN, além do transportado pelo pessoal.
Extractos História BArt 733, págs 45
1-11-1965 – Acto Bárbaro praticado durante uma festa – Batuque
Secções da CCS transportaram feridos e mortos devido ao rebentamento de um engenho explosivo lançado por elementos subversivos durante um batuque, [festa, dança tradicional] que se realizava no bairro da Morucunda pelas 21H30.
O rebentamento do engenho causou a morte de 27 indivíduos, 70 feridos graves e vários feridos ligeiros, todos civis.
As NT sofreram um ferido grave que assistia ao evento, o qual foi evacuado com os civis mais graves num Dakota em 2/11 pela 01h30 para Bissau e 3 feridos ligeiros, sendo dois da CArt 731 e um da CCmds.
Em virtude deste atentado, foram logo detidos pelas NT 12 indivíduos considerados suspeitos.
O atentado no bairro de Morocunda em Farim, de características inéditas na Província, foi puro acto de terrorismo visando a população civil a fim de suster o regresso da população refugiada no Senegal e fazendo debandar a já existente ferindo a economia da Província e tornado difícil a vida às NT nas quais se espelharia um estado de confusão que convenientemente explorado, espalharia o ódio e a desconfiança entre a população que permanecesse em Farim e as NT.
A pequena de baixas sofridas pelas NT reside no facto de no dia 31-10-1965 se ter realizado a “Operação Canhão” e a maioria do pessoal já estar recolhido na hora do atentado.
Das primeiras averiguações efectuadas pode conclui-se o seguinte:
Foram lançadas duas granadas de mão acopladas com duas cargas explosivas constituindo um único bloco ao qual tinha sido pregos e lâminas.
O engenho foi fabricado com o fim de ser lançado num batuque ou ajuntamento festivo por um nativo que prestava serviço na Companhia de Milícias e que se prontificou a fazer tal trabalho a troco de 14.000$00…
O nosso camarada Paulo Bastos, do Pel Ind. CCaç 953, que se encontrava na altura em Farim, conta que essa noite, foi para esquecer, pois o acto horrendo praticado, espalhou o terror e o pânico na população.
Foi uma noite de grande, luta, de trabalho, de solidariedade, pois nunca tinha assistido a tanta movimentação em Farim, até a pista esteve pronta com iluminação dos faróis das viaturas militares e tochas para o Dakota aterrar em segurança e desenvolver a actividade de evacuação dos feridos para Bissau.
Este bárbaro episódio também é invocado nos seguintes termos:
…. Também acções terroristas tiveram lugar na tabanca de Morocunda, em Farim, causando 19 mortos e 70 feridos entre a população que assistia a um batuque, devido ao inexplicável lançamento criminoso de um engenho explosivo.
Enfim, foi um marco de terror na Vila de Farim.
António Paulo Bastos,
Recordo que tudo aconteceu no dia 1 de Novembro de 1965, durante o decorrer de uma festa na tabanca do Bairro da Morcunda, tendo provocado 27 mortos e 70 feridos graves.
Creio que deve ter sido um dos graves incidentes do género, que se registaram em tempo de guerra, entre 1961 e 1974.
Este envio é a rogo, à minha sobrinha, pois eu sou um analfabeto em coisas de computadores e, por isso, completamente dependente nesta matéria.
No relatório falam de um agente da PIDE. O seu nome era Prodizio (nunca mais me esqueci) e, em conversa com a Cáti (ou Cádi não me lembro exactamente), ela confirmou-me que, depois de recuperada dos graves ferimentos que sofreu, regressou a Farim, tendo sido empregada na casa dele.
Sobre relatórios, tenho em meu poder, ainda, os do BArt 733 e do BCav 490, pois foram os batalhões onde estive adido.
http://carlosilva-guine.i9tc.com/index.php
A seguir – Companhia de Caçadores 1420