EM COMBATE – 122- José Brandão

 

Cerca das 23H20 do dia 26 de Junho de 1971, um grupo inimigo atacou BAFATÁ durante cerca de 5 a 10 minutos. Parte do seu efectivo visou directamente o aquartelamento do ERec. 2640. As nossas tropas reagiram pelo fogo e pela manobra. Não houve consequências para as mesmas. No entanto, a população civil sofreu 4 feridos ligeiros e foram queimadas 11 habitações (palhotas) de um bairro da periferia.

“História do Esquadrão de Reconhecimento 2640”, Cap. II, Pag. 52
(com algumas correcções meramente editoriais)
 

«O General Spínola desceu do helicóptero com cara de poucos amigos. Ao contrário do costume, não envergava o camuflado. Apresentou-se de farda verde, de gravata e com o blusão de lã vestido, embora o calor de Junho fosse sufocante. Na cabeça, a boina castanha, monóculo no olho direito e uma varinha na mão. Depois de um cumprimento de circunstância aos oficiais que o aguardavam na placa da pista de aviação, dirigiu-se de imediato para a sala de reuniões.

Militarmente pouco relevante, este ataque revestiu-se de uma grande importância psicológica e política. Era o primeiro ataque ao âmago do “Chão” Fula, e punha a nu a fragilidade da sua segurança, resultante do abandono da região do Boé, a Sul do rio Corubal. Abandono este decidido pelo próprio Spínola e que foi alvo de críticas, tanto de políticos como de militares.

 

Assim, o general, que sempre revelara uma certa dificuldade em reconhecer os seus erros, não se demorou em encetar um ataque cerrado ao comandante da defesa de Bafatá, um tenente-coronel que comandava o Batalhão local. O ambiente era pesado e irrespirável, as portas e janelas foram fechadas e todos, menos Spínola, que continuava agasalhado, transpiravam copiosamente. De palavra pronta e acutilante, desferia golpes sobre golpes no pobre homem. A intenção era clara: descobrir uma falha que lhe permitisse transferir as culpas para o seu subordinado.

Mas não foi fácil. O tenente-coronel, sem o fazer com frontalidade, procurava insinuar que não tinha flexibilidade para alterar o dispositivo de defesa, imposto pelos escalões superiores. Que, nesses termos, era impossível suster as infiltrações dos guerrilheiros. Ou seja, que a responsabilidade do desaire caberia, em última análise, ao próprio Spínola.

Mas este retorquiu que era altura para decisões rápidas. Que a obrigação do comandante da defesa era fazer as alterações que achasse necessárias, sem delongas, e que pedisse autorização depois. Abro aqui um parêntesis para esclarecer que, com Spínola, era impensável tomar tais iniciativas porque, em caso de fracasso as consequências seriam devastadoras para o futuro da carreira. E, a finalizar a sua argumentação, o general acrescentou: «O senhor, em vez de dominar a situação, está a ser dominado por ela. Temos que ser inteligentes!»

E foi aí que o tenente-coronel, já em pânico, cometeu um erro fatal. Tentando desesperadamente demonstrar que não lhe faltaria inteligência, respondeu: «Eu fui professor de Geometria Descritiva na Academia Militar.»

A resposta fulminante e demolidora de Spínola não se fez esperar: «Vê-se bem que não foi professor de discernimento nem de bom senso.»

E, com esta tirada, o Governador da Guiné saiu vitorioso. Acabara de conseguir mais um bode expiatório para imolar no altar das suas glórias…»

Fernando Vouga *

 

* Fernando Vouga ou Costa Monteiro.

 

Trata-se de Fernando da Costa Monteiro Vouga, autor do presente prefácio, nascido em Lamego, em 1940. Após ter terminado os seus estudos liceais, alistou-se como voluntário no Exército, tendo ingressado na Academia Militar onde frequentou o curso de Cavalaria.

Promovido a oficial, foi colocado em várias unidades da sua arma. Fez três comissões em África nos três teatros de guerra.

 

Ao comando do Esquadrão de Reconhecimento 2640 permaneceu na Guiné até 27 de Setembro de 1971, data em que terminou a comissão.

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A SEGUIR – Companhia de Caçadores 2700

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