DIÁRIO DE BORDO de 18 de Outubro de 2012

Hoje não queremos falar da situação que estamos a viver. Hoje vamos recordar o dia 18 de Outubro de 1817. Na madrugada desse dia de há 195 anos, o general Gomes Freire de Andrade (e mais onze militares e políticos)  foi enforcado no Forte de São Julião da Barra. Diga-se que este facto deu lugar a uma abundante bibliografia,  nomeadamente a duas obras-primas da Literatura – o livro de Raúl Brandão 1817 – A conspiração de Gomes Freire e a peça teatral de Luís de Sttau Monteiro – Felizmente Há Luar.

Como aqui já se disse num post sobre o tema, não vamos defender a tese de que Gomes Freire foi um herói ou de que foi um traidor – Foi enforcado porque perdeu, pois estávamos num tempo em que os homens pagavam com a vida os erros que cometiam ou que lhes eram imputados. Gomes Freire de Andrade conspirou, ou deixou que conspirassem em seu nome, contra a «normalidade». Que anormalidades reivindicava? Liberdade de imprensa, liberdade religiosa e o estabelecimento de limites ao poder régio. O rei estava no Brasil e quem mandava aqui era Beresford, o plenipotenciário britânico. O chamado conselho de Regência pretendia atrasar o mais possível o estabelecimento de princípios pelos quais outros povos da Europa já se regiam. Isto para em meia-dúzia de linhas explicar o que tem sido explicado em volumosos livros.

Em 1834, a convenção de Évora-Monte, pondo termo a uma cruenta guerra civil, implantou o regime liberal Mudou o paradigma, o que era contra a normalidade passou a ser normal. De traidor o tenente-general passou a herói e a mártir da Pátria.  O verdadeiro crime de Gomes Freire de Andrade, foi ter razão antes do tempo. Foi necessária uma guerra, milhares de mortos e o país devastado, para que as suas ideias triunfassem e a sua figura fosse reabilitada.

Dissemos no começo deste editorial que não íamos falar sobre a situação que estamos a viver. Mas não conseguimos tal proeza.  À luz de princípios históricos, alguns dos quais a Constituição ainda consagra, estamos a ser governados por traidores, por sabujos que estão a matar o povo para obedecer a ordens de uma megera alemã e a decisões que chegam de Bruxelas. Traidores é uma designação suave. Quando houver estatísticas actualizadas que demonstrem quantas pessoas morreram por suicídio, subnutrição e falta de medicamentos essenciais à sua sobrevivência (comparando os valores obtidos com  a média dos anos anteriores), ver-se-á quantos portugueses estes senhores assassinaram. Noutros tempos seriam executados. Mas os tempos mudaram – quando acabarem de matar e de destruir a débil economia e o já de si empobrecido aparelho produtivo do país, não serão encostados ao paredão – levarão, intactas, as estúpidas cabeças para a administração de um qualquer banco ou para um qualquer cargo no Parlamento europeu. Oxalá, já que não se pode fazer justiça, recebam em breve o prémio pela sua traição. Como disse o poeta António José Forte  “ Fazei todo o mal que puderdes e passai depressa”.

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