O SHERIF DE WALL STREET, por Sylvan Cypel

Selecção, tradução e introdução por Júlio Marques Mota

Parte I

Nota Introdutória sobre um sherife que não temos nem em Portugal nem na Europa de Durão Barroso: ainda a propósito do prémio Nobel da paz.

Dedico este trabalho ao João Cravinho, pela sua tenacidade, pelo seu exemplo ímpar em Portugal na luta contra a corrupção, contra a criminalidade financeira.

Uma peça curiosa esta. Enquanto por aqui o Engenheiro João Cravinho é o único a protestar contra a impunidade com que tudo é feito e a exigir uma política séria e activa no combate à corrupção e a criminalidade financeira, enquanto por aqui um Nogueira Leite que com Cravinho debatia o tema na televisão considera que é preciso é passar por cima e evitar a caça às bruxas, enquanto na City Cameron faz exactamente o mesmo e tem no seu governo alguém que foi responsável maior por um banco que corre o risco de ser multado em mil milhões de dólares, o HSBC, por lavagem de dinheiro, enquanto Rodrigo Rato em Espanha e acusado de vigarista mor do Bankia saía com um bónus dourado e deixava um grande banco falido que os trabalhadores espanhóis na sua pobreza da crise haveriam de pagar, nos Estados Unidos procuram-se fazer pagar os responsáveis de base pela crise criada. Alguns nomes para os adoradores dos mercados se lembrarem, HSBC, Crédit Suisse, UBS, Barclays, Deustche Bank, Goldman Sachs, Bank of América, JPMorgan, no fundo trata-se de uma outra Comissão Pecora a funcionar depois da dirigida recentemente por Angelides que tão bom trabalho fez.

Se a Comissão Europeia merece o prémio Nobel por andar a destruir a Europa que merecem estes homens na América sujeitos às enormes pressões que não somos sequer capazes de imaginar mas de que no filme Inside Job se dá uma pálida ideia? Que merecem estes homens, afinal? A resposta é simples: a mais profunda consideração, o oposto do que os homens de hoje que irão receber o prémio Nobel da paz merecem, até porque há aqui um enorme engano, entre quem fez a Europa de ontem e até há alguns anos atrás e não tem nada a ver com os que a dirigem hoje e a têm estado a destruir, criando um clima social e económico de uma situação de quase guerra. E, por isso irão receber o prémio Nobel da Paz!

Júlio Marques Mota

Le sherif de Wall Street, Sylvan Cypel,

Le Monde

9 de Outubro de 2012

Como muitas vezes, o organismo tem um nome bárbaro: grupo de trabalho sobre acções da bolsa garantidas por empréstimos hipotecários (Residential Mortgage Backed Securities Work Group). A criação deste organismo, encarregado especificamente de caçar a fraude dita de subprimes, foi anunciado por Barack Obama no seu discurso sobre o estado da União, em Janeiro, sinal da importância que lhe atribui o Presidente Obama.

Três dias depois, o grupo – chamemos-lhe assim, em vez de RMBSWG… -, que reúne representantes do Tesouro, do FBI, do departamento da Habitação, o controlador dos mercados (Securities & Exchange Commission, SEC) e várias agências reguladoras dos mercados financeiros, lançou 11 inquéritos contra grandes bancos e agências de crédito imobiliário.

Notável rapidez judicial ou feliz coincidência eleitoral, um dos co-presidentes do grupo, Eric Schneiderman, procurador- geral (Ministro da Justiça) do estado de Nova York e o homem que melhor domina o dossier – Wall Street está na sua jurisdição – acabou de anunciar a apresentação da maior queixa jamais apresentada contra uma instituição financeira nos Estados Unidos.

Quatro anos após o colapso de Wall Street, JP Morgan, actualmente o maior banco dos Estados Unidos, é acusado de ter deliberadamente enganado os seus investidores sobre a qualidade dos derivados de dívida hipotecária (as famosas hipotecas sub-prime) que emitiu e promoveu junto dos seus clientes. O banco tê-lo-á feito através de falsas declarações, ou, mais frequentemente, por não indicar as informações que teriam mudado a percepção dos compradores. O banco também teria posto em prática um sistema que fazia deslocar a maior parte do risco para estes mesmos investidores. O procurador-geral, Schneiderman, reclama portanto que os investidores sejam reembolsados em mais de 20 mil milhões de dólares (15,34 mil milhões de euros) na qualidade de lucros indevidos e de sanções por fraudes ligadas.

O banco insurge-se. A queixa, que o banco contesta, abrange o período 2005-2007 e está ligado às acções do Bear Stearns, um banco de negócios que JPMorgan comprou… em 14 de Março de 2008, então já depois dos factos mencionados! E ainda, proclama o JPMorgan, esta compra foi feita a pedido do Tesouro dos EUA para evitar a falência. Mas. Schneiderman permanece inflexível. JP Morgan, diz, tem beneficiado de condições hiper-vantajosas do Tesouro a fim de comprar o Bear Stearns: um preço de venda irrisório e o risco do investimento (29 mil milhões de títulos podres) garantido até ao último cêntimo pelo FED (Federal Reserve, Banco Central americano).

(continua)

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