Selecção e tradução por Júlio Marques Mota
A Alemanha é o passageiro de primeira classe do Titanic que é a zona Euro – III
(CONCLUSÃO)
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Resgastes e austeridade é uma política que irá falhar
Isto é como a austeridade na Europa tem estado a funcionar e como irá funcionar . Os governos nacionais da zona euro não podem emitir a sua própria moeda. Eles têm de ‘adquirir’ euros porque não podem criá-los. Se eles não podem “ficar” com o dinheiro, eles tornam-se insolventes. Assim, numa crise da dívida deflacionária como esta terá:
– Os utilizadores da moeda e as suas utilizações … são necessariamente pró-cíclicas. A economia está em regressão , e assim para os utilizadores da moeda em geral os seus rendimentos estão a diminuir. E uma vez que eles têm de ‘adquirir ‘ euros, eles cortam nas suas despesas como reacção à redução de rendimentos ou de risco de insolvência.
– Agora, esta atitude pró-cíclica é sempre a situação em vigor para os governos nacionais, porque uma economia em situação de contracção da actividade económica significa também redução da receita fiscal . Além disso, no caso dos governos numa situação em que os estabilizadores automáticos estejam a forçar aumento da despesa pública, estes são então obrigados a aumentarem a despesa pública. Assim, um agravamento do Orçamento geral do Estado é então automático em situação de recessão. Tal como os utilizadores privados de moeda da zona euro os governos nacionais nesta situação e desta mesma zona também têm que estar preocupados com a sua insolvência como vemos agora. Eles também neste contexto e como dissemos vão em seguida agir ainda mais pró-ciclicamente.
– A prociclicidade é uma das falhas estruturais da zona euro, não há nenhuma autoridade federal que possa criar quaisquer activos financeiros líquidos para actuarem de modo contra- cíclico durante a recessão. Assim, o ciclo de actividade económica da zona euro será sempre mais volátil enquanto que cada agente económico deve agir pró-ciclicamente. Isso faz com que os desequilíbrios em conta corrente sejam uma espécie de foco luminoso a chamar a atenção para uma recriminação entre os próprios países da zona euro .
– Neste contexto, os governos nacionais são então forçados a cortar na despesa pública, reduzindo os activos financeiros líquidos no sector privado. A redução dos activos financeiros líquidos significa estar a retirar liquidez, dinheiro, para fora do sector privado. E este comportamento vai reduzir a procura de consumo e dificultar o crédito . se os níveis de dívida do sector privado são altos e os sistemas bancários estão alavancados, como eles agora estão, e muito, no sistema euro, esta redução do crédito leva a dificuldades financeiras, a falências de empresas não financeiras, a dificuldades nas empresas financeiras e a falhas no sistema financeiro potencialmente sistémicas. Isto é o que significa austeridade num ambiente de alto endividamento e de excessiva alavancagem do sector financeiro.
A Alemanha não pode salvar o euro porque não têm os recursos financeiros para o fazer. O governo alemão já está na situação de estar a violar o critério do limite da dívida pública relativamente ao PIB, critério esse inscrito no Tratado de Maastricht. E como os alemães acrescem os seus compromissos com a abordagem que tem sido seguida de resgates e de austeridade , é preciso questionar a classificação de crédito da Alemanha como o fez a agência de rating Egan-Jones, baixando a notação do país para A +. Na situação presente, a crise do euro é uma crise em movimento, em expansão, que se irá estender e irá prejudicar a zona euro até cada vez mais perto do seu núcleo central e até chegarmos à situação de entrarmos em situação de incumprimentos, de explosão da zona ou de monetização.
Por agora a grande confusão continua – e pode continuar durante muito mais tempo. Mas eventualmente, os acontecimentos no terreno podem-se tornar demasiado terríveis e a grande confusão enquanto tal falhar. Chegados a este ponto, então tudo pode acontecer. Uma dissolução desordenada da zona euro deve, então, deixar de ser considerado um resultado estranho, praticamente impossível, para passar a ser considerado um dos principais cenários esperados ou até mesmo uma hipótese de base .