REFLEXÕES SOBRE A MORTE DA ZONA EURO, SOBRE OS CAMINHOS SEGUIDOS NA EUROPA A CAMINHO DOS ANOS 1930

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

O desastre  que é a Troika

 Paolo Manasse

O novo atraso na disponibilização da parcela de 44 mil milhões concedidos pela  “Troika” (BCE, UE, FMI)  à  Grécia coloca sérios problemas de natureza económica e política para este país, para toda a  zona euro  mas também para o Fundo Monetário Internacional.

  • Este atraso ameaça a solvência do sistema bancário grego, a cuja recapitalização foram destinados cerca de metade dos recursos a disponibilizar com esta parcela do resgate;
  • Este atraso  abre o caminho para uma nova onda de contágio em particular à  Espanha e Itália, que estão bem longe de se sentirem  “seguras” dado os fracos resultados dos  seus fundamentos (dívida sobre o PIB e crescimento) e dadas as suas incertezas políticas;
  • Este atraso  desestabiliza a arriscada maioria que é o suporte do  governo Samaras  que recentemente conseguiu obter no Parlamento as novas medidas exigidas pela Troika no meio de  uma situação de fortes tensões sociais: cortes orçamentários enormes (13,5 mil milhões) e reformas difíceis para o mercado de trabalho.
 paolo manasse - I
 

Contrariamente à declaração de Schäuble, este atraso não pode ser plausivelmente atribuído a “razões técnicas”, tais  como o contraste entre a União Europeia e o FMI sobre o momento (2020?) e sobre o objectivo a alcançar  (120%?) da  trajectória de ajustamento pretendida  para o ratio dívida sobre PIB. A razão é política.

A recusa em aceitar a única solução possível, uma depreciação do valor da dívida da qual  dois terços estão nas mãos da UE, BCE e FMI em troca de um grande programa de privatizações e de um plano de consolidação orçamental credível, só pode ser explicada com a proximidade das eleições alemãs, em Setembro de 2013.

O FMI, onde os países da UE são colectivamente o accionista maioritário, fariam muito bem em reconsiderar os termos de sua participação na Troika (= trenó puxado por três cavalos como é  utilizado  na Rússia). Se um dos cavalos (UE) se recusa a correr ou corre por conta própria fazendo a sua própria corrida  (prossegue a sua própria agenda política interna), o trenó volta-se. A perda de credibilidade da Troika é bem ilustrada na figura acima. As linhas ponteadas a vermelho indicam as subsequentes previsões de crescimento do PIB feitas pela Troika  no período  2007-2011. A linha sólida a preto mostra o crescimento real do PIB na Grécia.

A comunidade internacional não pode admitir que as previsões do FMI tenham caído  e continuem a cair   para a classificação de puro lixo .

Paolo Manasse,   The Troika’s Disaster, Novembro 2012.
http://www.economonitor.com/blog/2012/11/the-troikas-disaster/

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