Selecção e tradução por Júlio Marques Mota
O desastre que é a Troika
O novo atraso na disponibilização da parcela de 44 mil milhões concedidos pela “Troika” (BCE, UE, FMI) à Grécia coloca sérios problemas de natureza económica e política para este país, para toda a zona euro mas também para o Fundo Monetário Internacional.
- Este atraso ameaça a solvência do sistema bancário grego, a cuja recapitalização foram destinados cerca de metade dos recursos a disponibilizar com esta parcela do resgate;
- Este atraso abre o caminho para uma nova onda de contágio em particular à Espanha e Itália, que estão bem longe de se sentirem “seguras” dado os fracos resultados dos seus fundamentos (dívida sobre o PIB e crescimento) e dadas as suas incertezas políticas;
- Este atraso desestabiliza a arriscada maioria que é o suporte do governo Samaras que recentemente conseguiu obter no Parlamento as novas medidas exigidas pela Troika no meio de uma situação de fortes tensões sociais: cortes orçamentários enormes (13,5 mil milhões) e reformas difíceis para o mercado de trabalho.
Contrariamente à declaração de Schäuble, este atraso não pode ser plausivelmente atribuído a “razões técnicas”, tais como o contraste entre a União Europeia e o FMI sobre o momento (2020?) e sobre o objectivo a alcançar (120%?) da trajectória de ajustamento pretendida para o ratio dívida sobre PIB. A razão é política.
A recusa em aceitar a única solução possível, uma depreciação do valor da dívida da qual dois terços estão nas mãos da UE, BCE e FMI em troca de um grande programa de privatizações e de um plano de consolidação orçamental credível, só pode ser explicada com a proximidade das eleições alemãs, em Setembro de 2013.
O FMI, onde os países da UE são colectivamente o accionista maioritário, fariam muito bem em reconsiderar os termos de sua participação na Troika (= trenó puxado por três cavalos como é utilizado na Rússia). Se um dos cavalos (UE) se recusa a correr ou corre por conta própria fazendo a sua própria corrida (prossegue a sua própria agenda política interna), o trenó volta-se. A perda de credibilidade da Troika é bem ilustrada na figura acima. As linhas ponteadas a vermelho indicam as subsequentes previsões de crescimento do PIB feitas pela Troika no período 2007-2011. A linha sólida a preto mostra o crescimento real do PIB na Grécia.
A comunidade internacional não pode admitir que as previsões do FMI tenham caído e continuem a cair para a classificação de puro lixo .