Galiza extrema e dura
A Estremadura espanhola está a animar as pessoas da sua comunidade para aprenderem língua portuguesa. Dizem que saber português melhora o currículo académico e permite aspirar a mais e melhores postos de trabalho.
É o mesmo que vimos dizendo algumas pessoas na Galiza desde há tempo demais. Com a diferença de que na Estremadura espanhola o português é terceira língua, entanto aqui é a nossa língua materna, veículo de transmissão da cultura e de coexão da comunidade.
Mas isso não tem sido suficiente. As verdades somente são verdades se as diz o imperador. Porém, o certo é que no berço da língua, perde-se a língua. Péssima notícia para quem vive nela. Poderia sair agora a usada metáfora da árvore que não sobrevive sem raízes, ainda que raízes continue a havê-las mesmo não estando nada bem cuidadas.
Porque aqui estamos, apesar de tudo, sofrendo agressão continuada. Perante a proibição da beleza das palavras e da autenticidade dos sotaques. Perante o nunca ler nem escutar Pessoa, Eça, de Mello Breyner, nem Lispector, Meireles, Drummond, nem Mia Couto, nem Vinícius, nem Cartola. Sem papeis e sem governo, vendidas e ultrajadas. Perante isso, o que faz Portugal?
É compreensível mas não admissível que a Espanha não deixe as galegas se desenvolverem com liberdade. Ora, nem admissível nem compreensível que Portugal se mantenha distante do seu berço, fonte originária da sua história e cultura, entanto abre os braços à hoje espanhola Estremadura.
mensagem anterior: Grândola, vila galega
É imperdoável que não se explore e intensifique o mais simples dos intercâmbios, da proximidade da língua e da geografia, entre Portugal e a Galiza.
Ao qual haveria que trazer os outros “portugueses” do mundo.
As proximidades não chegam, Pedro. São como as parábolas que sempre tendem ao infinito. É a identificação o que precisamos, comunicação, colaboração e tratamento entre iguais, não idênticos, mas iguais e os mesmos. As mesmas.
Há uma iniciativa cidadã para o ensino do português padrão nas nossas instituições públicas, a Iniciativa Parlamentar Paz-Andrade, na que recolhemos bastantes mais do que as 15.000 assinaturas exigidas; está estes dias em trâmite de entrega; falta ver o resultado…
não tenho muita esperança por esse lado, francamente: a verdadeira iniciativa popular é a de pessoas luitadoras, como a nossa Isabel, as que não vão pedir permissão ao Estado Espanhol para manter firmemente a nossa língua, que por outro lado não é “nossa”, mas “também nossa”, como valentemente se reconhece aqui:
“O português hoje não é de Portugal, mas ‘também’ é de Portugal. Nós temos que acrescentar o ‘também'”
http://www.portugaldigital.com.br/cultura/ver/20075512-portugues-tera-350-milhoes-de-falantes-ate-o-final-do-seculo
Obrigado!
Obrigada eu, Carlos, pelo teu comentário. Os melhores desejos para a ILP Paz-Andrade, com a que colaborei também e o conservatório colaborou. Pode ver-se aqui:
http://www.facebook.com/photo.php?fbid=4671041090442&set=a.3583334938468.158550.1126063183&type=3&theater
e aqui:
http://www.facebook.com/photo.php?fbid=4693844820521&set=a.3583334938468.158550.1126063183&type=3&theater
Os promotores têm andado um pouco preguiçosos ao começo do prazo e depois no final tudo são pressas, mas conseguiremos. Há 15000 pessoas na Galiza dispostas a apoiar o português. Ora, o artigo vai na linha de ver se há 15000 pessoas em Portugal dispostas a apoiar a Galiza…
Haver haverá, mas há que espicaçá-las para despertarem do esquecimento.
Eu, que me quereis, caros galegos, Isabel cara e Carlos caro, e caros portugueses que aqui escrevestes, mas a Galiza – Gallaecia (raiz de Portugal) é Terra do esquecimento. Escrevi poema sobre o assunto, no LUZES E ESPÍRITO:
“consagro estes meus anos ao recordo”
a.
Num ontem recuado, quando ainda
a lembrança era treva dolorosa,
pressenti, Eusebio, que o vazio
de armas e varões assinalados
habitava nas sombras, quase mares
duvidosos de brêtema e inconstância,
desta Terra infeliz do esquecimento
que alguns dizem Galiza…
b.
…e nas sombras teci desejos ocres:
memórias de corpos nunca sidos,
indecisas visões de corpos rijos,
e esses traços subtis, que só são sombra,
Eusébio, de morte, mãe de vida,
mão devida que desenha eternidades…
Nessa sombra hesitante, persistente,
tecemos já a Galiza!
c.
Certos versos sujeitos ao devir
da brêtema, gentil e quase heróica,
servem de urdume cromático ao desejo:
será por fim lembrança e agonia,
Eusébio, será esse fundo firme,
alicerce de tempos e façanhas
em amor e desamor, que já esforçados
alguns dizem Galiza.
(O poemário completo pode ler-se num e-book ou livro-e no RECANTO DAS LETRAS, brasileiro)