Selecção e tradução por Júlio Marques Mota
Itália: o populismo assusta a Europa
Texto disponibilizado por Philippe Murer, Membre du bureau du Forum Démocratique e Président de l’association Manifeste pour un Débat sur le libre échange
O incrível regresso da múmia Berlusconi
Jean Bonnevey
le 26/02/2013
O grande perdedor das eleições italianas é a governação burocrática europeia devastada pela revolta populista. Quando se somam os votos de recusa a Bruxelas simbolizada pelos votos de Berlusconi e de Grillo há então uma maioria em Itália. É populista e é anti- Europa.
Um sistema eleitoral que dá 55% dos lugares à coligação que alcança maior votação
Isto é confirmado pelo colapso do ‘professore’, o ídolo dos media e dos círculos económicos europeus. Monti apanhou um KO técnico com menos de 10% dos votos. O ex-presidente do Conselho, o homem que, como procônsul Europeu, impunha aos italianos uma austeridade de submissão foi varrido pelo seu povo. Uma recusa bem dura e total. Seis meses atrás, ele era um dos favoritos. Ele arrastou na sua derrota o democrata-cristão Casini e o antigo braço-direito do “Cavaliere” Gianfranco Fini. Para “Il Giornale”, muito próximo de Berlusconi “é a justa punição eleitoral aos traidores”.
O mesmo jornal tinha como título o “Milagre Berlusconi “. Não podemos dizer que não tem razão. Nalgumas poucas semanas de campanha, aquele de que se dizia que estava desacreditado e enterrado para sempre, saiu assim do seu túmulo e sobe quase 15 pontos. A sua aliança de centro-direita e da direita é a segunda atrás da coligação centro-esquerda. É o triunfo dos ‘palhaços’, lamentava-se um representante eleito da esquerda, num dos muitos telejornais da TV italiana. Nesta sua frase, o eleito incluía na mesma crítica o comediante Bepe Grillo e Silvio Berlusconi.
Borsani à procura duma maioria de governo
Claro, é necessário ir para além das lições de um voto que será provavelmente inútil para a Itália, mas decisivo para a Europa. Berlusconi bloqueia qualquer maioria no Senado, fazendo com que o país seja ingovernável. O centro-esquerda de Bersani alcançou portanto uma vitória amarga, apesar da sua maioria na Assembleia. Ser-lhe-á quase impossível governar e formar um governo estável. Essa vitória de Pirro, a esquerda deve-a à ascensão de Berlusconi, mas deve-a sobretudo ao aparecimento do movimento ‘5 estrelas’, o movimento da recusa total dos políticos e que se torna a terceira força no país. Movimento alcança mesmo o primeiro lugar enquanto que partido fora de qualquer coligação.
O tremor de terra que dá pelo nome de Grillo
Primeiro a esquerda chegou em primeiro lugar, mas muito menos largamente do que o esperado na Câmara dos deputados, sendo a mesma coisa, esquerda-direita, no Senado, com o grande avanço do artista rebelde e a queda brutal dos europeístas, tudo isso leva a que se esteja perante uma Itália neste quadro claramente incontrolável. O euro ficará novamente sob pressão, porque a economia italiana não é a da Grécia. As bolsas repartem, mas à baixa. Berlusconi já não faz rir nenhum financeiro dos bairros chiques nem a imprensa bem-pensante, hipócrita. O surpreendente retorno da múmia que até mesmo os seus partidários não esperavam certamente continua a ser uma excepção italiana.
Gianfranco Fini: o fim de um percurso, de Mussolini a Monti
Alguns dos nossos leitores consideravam que estávamos errado em estimar que a sua pequena frase positiva sobre Mussolini não o iria prejudicar. Nós mantemos esta opinião. Aliás, um movimento muito à direita, inexistente há algumas semanas, “Fratelli d’Italia” entra também ele e ao mesmo tempo nas câmaras legislativas. Às vezes perguntamos-nos mesmo o que pode realmente atingir e prejudicar Berlusconi, esta caricatura na qual tantos italianos se reencontram e se assumem.
Alguns comentários da imprensa, a quente, para confirmar os grandes ensinamentos e os títulos :
« Les échos » : L’Itália face a um grande impasse político .
Os dados eleitorais de Berlusconi e Grillo perturbam o Senado italiano, onde não há nenhuma clara maioria. Novas eleições podem ser necessárias. O “Cavaliere” baralha as cartas das eleições legislativas. A percentagem de votos alcançada pelo seu partido, o “Popolo della Libertà”, torna impossível formar uma coligação para governar a Itália. Mario Monti não conseguiu formar uma terceira força.
« Libération » : Uma Itália e ingovernável sai das urnas
«Vaffanculo» A estabilidade de governo? No final das eleições legislativas, marcadas pelo resultado espectacular do movimento populista ‘Cinco estrelas’ (M5S) do comediante Beppe Grillo, nenhuma clara maioria parecia possível ontem à noite em Roma.
« Le Figaro » : A incerteza em Itália desestabiliza Wall Street
A bolsa de valores de Nova York assinou a sua pior sessão desde o início do ano, fazendo temer uma instável situação política na Itália e uma situação nervosa face à proximidade de uma data limite crucial para o orçamento americano, na sexta-feira.
« Le Monde »: Sem maioria clara no Senado, a Itália torna-se ingovernável
A Itália está inserida num impasse na segunda-feira, com uma câmara de deputados à esquerda e um Senado sem uma maioria, depois das eleições marcadas pelo boom do ex-cómico Beppe Grillo e escrutinados pelos parceiros inquietos para a terceira maior economia da zona euro.
François Hollande deve lamentar a sua pequena frase anunciando que a crise da Europa já estava atrás de nós. As eleições italianas mudam tudo. A revolta das urnas contra a austeridade imposta alarga-se, portanto. A Europa de Bruxelas é repudiada pelo povo da terceira potência económica do continente e por um dos fundadores do mercado comum. É hora de aprender as lições, é chegada a hora de tirar as devidas consequências. .
dans http://www.metamag.fr/metamag-1191-Italie—le-populisme-terrasse–l%E2%80%99Europe.html