POESIA AO AMANHECER – 157 – por Manuel Simões

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ANTÓNIO BARBOSA BACELAR

( 1610 – 1663 )

A UM SONHO

Adormeci ao som do meu tormento,

e logo vacilando a fantasia,

gozava mil tormentos de alegria,

que todos se tornaram sombra e vento.

Sonhava que tocava o pensamento

com liberdade o bem que mais queria,

fortuna venturosa, claro dia.

Mas ai! que foi um vão contentamento!

Estava, ó Clori minha, possuindo

desse formoso gesto a vista pura,

alegres glórias mil imaginando;

mas acordei e, tudo resumindo,

achei dura prisão, pena segura.

Ah quem estivera assim sempre sonhando!

(de “Fénix Renascida”)

A poesia deste autor encontra-se nos dois cancioneiros barrocos. Em vida editou apenas duas “Relações” em prosa acerca das vitórias militares portuguesas e uma glosa em oitavas à estrofe de Camões “Deu sinal a trobeta castelhana”, adaptando-a a uma vitória na guerra da Restauração. Este soneto, seguindo a estética barroca, constrói-se ainda a partir da contraposição, desta vez entre sonho e realidade.

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