Selecção, tradução e nota introdutória por Júlio Marques Mota
O grande esvaziamento de Portugal
Edward Hugh
Parte II
(continuação)
É claro, a escassez é sempre relativa a alguma coisa. Muitos consideram que o planeta está superpovoado e que as restrições de energia significam que quanto menos gente melhor. Então, não deveríamos nós estar a celebrar o facto de todas essas crianças não estarem a nascer ?
Bem, não, não, pelo menos se quisermos que o sistema de pensões e o sistema de saúde sejam sustentáveis, e isto no mundo desenvolvido da crise da dívida soberana está sempre ligado, para poder enfrentar as responsabilidades implícitas face a uma população cada vez mais envelhecida. Uma coisa que Portugal não vai ter seguramente é então uma escassez de pessoas idosas , pois a faixa etária acima de 65 anos está projectada para crescer e crescer, enquanto que a população em idade activa irá diminuir e diminuir. Não admira pois que os jovens estejam a sair do país, mesmo que a taxa de desemprego dos jovens não seja de 38,3%, só acho que depois de pagos todos os impostos e contribuições para a segurança social aos jovens pouco mais lhes resta para além do que terão de pagar para conseguirem manter o navio do bem-estar à tona de água. O patriotismo no final do dia, tem os seus limites.
Infelizmente a população que se vai embora e o constante crescimento do desemprego não são os únicos problemas que o país enfrenta. A economia também está bloqueada e a ficar dia a dia cada vez mais comprimida.
Longe da recessão ficar mais suave como no ano passado, esta realmente tem-se progressivamente acelerado e houve uma queda na produção de 3,8% nos três meses até Dezembro, em comparação com um ano antes.
Naturalmente, nem tudo são más notícias. As exportações estão a ir muito bem. Estas subiram 5,8% durante o ano de 2012, e as boas notícias foram na verdade o aumento de quase 20% nas vendas para fora da Europa – as exportações para países fora da UE aumentaram cerca de 19,8% para atingir os 13.1 mil milhões de euros. Estes valores constituem agora cerca de 30% do total das exportações, quando eram de pouco mais de 25% em 2011. Em contraste, as exportações para os outros países da UE – onde a procura interna está a contrair-se em vez de se expandir – aumentaram de apenas 1%.
Em contraste as vendas a retalho caíram quase 10% no ano, a construção caiu de 15%, e a produção industrial de 5%.
Esta é uma imagem familiar nos países periféricos do sul da Europa, onde o desempenho positivo das exportações não compensa a redução da procura interna devido à pequena dimensão do sector de exportação, gerando-se um ambiente negativo em que as reduções sucessivas na despesa pública não fazem mesmo nada para suavizar a situação.
E no próximo ano parece-nos que a situação vai ainda piorar mais. O Banco de Portugal está agora a estimar uma queda do PIB de 1,9% em 2013, em comparação com as expectativas anteriores de uma queda muito mais suave. Ainda muito recentemente, em Outubro passado, o FMI estava a esperar apenas uma queda de 1%. Em qualquer caso, será o terceiro ano consecutivo de baixa no PIB , fazendo com que sejam assim 5 em 6 anos que a economia portuguesa tem estado a andar para trás depois de ter passado a maior parte da década quase sem nenhum crescimento.