RETRATOS, IMAGENS, SÍNTESE DOS EFEITOS DA CRISE DA ZONA EURO SOBRE CADA PAÍS

Selecção, tradução e nota introdutória por Júlio Marques Mota

Nota ao texto de Chandler, um texto  sobre a Itália, sobre o Dragão,  Mário Draghi,  sobre o grilo, Grillo e o seu movimento M5S. Este texto é escrito por  um homem dos mercados de capitais,  e é neste quadro que deve ser lido e pensado. Um texto a não perder, contudo, que se contrapõe a muitas verdades “oficiais” propaladas nas Universidades, sejam elas a Nova ou outras. 

Não se terá a mesma sensação que se teve ontem com alguns conferencistas para quem, essa é a leitura dos relatos dados, ou não há crise nenhuma ou então há crise  mas contra  esta   está tudo a  ser feito como deve ser, protegidos pelas forças do mal por um grande Dragão, Mário Draghi.  

 

Júlio Mota

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mapa itália

 

Itália: o Dragão e o grilo

Marc Chandler

Parte I

A dificuldade em conferir  sentido aos resultados das eleições italianas  gerou  a imagem comum, por um lado  de um palhaço para captar o cómico Grillo , que parece ser o político mais improvável, desde que  Lech Walesa, o desempregado electricista que esteve à frente de  Solidariedade na Polónia,   ajudou a levar a União Soviética até à  crise que lhe foi fatal, e, por outro lado, gerou o desprezo geral por Berlusconi, cuja carreira política parece impulsionada tanto pela necessidade de evitar a prisão como  de outras coisas mais . Embora compreensível, tudo isto confunde os títulos a dar às análises sobre  esta situação.

Além disso, não faz nenhuma justiça aos dois principais pontos fortes da Itália, o dragão,  Draghi, o presidente do BCE, e Grillo, que significa “grilo” em italiano como em português, o líder que  surgiu nestas eleições como o maior partido político,  o seu  Movimento 5 estrelas  (M5S). O futuro político  próximo parece estar nas mãos de Grillo e haverá muita especulação antes do final da semana, quando o Parlamento italiano formalmente  se reunir, pela primeira vez desde as eleições, para escolher um presidente para cada Câmara.

Quando Fitch cortou no  seu rating atribuído à  Itália, de A para  BBB+  antes do fim de semana, esta agência citou  as eleições  inconclusivas que não são propícias  a reformas estruturais.  Estas  também enfraquecem  a capacidade da Itália para responder  a choques, para responder à mais profunda contracção interna  ou ainda  à mais vasta crise da zona euro. Era simplesmente uma desculpa para alinhar uma classificação oportuna do seu rating. A rectificar a sua análise anterior  que estava já da realidade. Foi o outlier desta história. Esta rectificação de Fitch posição corresponde ao que a S & P fez  há um ano atrás  e que ainda está um pouco acima pois o rating da Moody’s para a Itália é Baa2 (equivalente a BBB). O movimento da Fitch não contém nenhuma informação nova. No início da semana, DBRS desceu o rating da Itália para A (baixo).

Uma das implicações importantes destas adicionais descidas de rating  assim como o de ficar   em vigilância negativa por todas  estas  agências –  é uma possibilidade realista – é então que esta situação fará subir o nível da tesourada aplicado ao valor dos títulos  italianos colocados como garantia junto do BCE. Os bancos italianos parecem ter um colchão de liquidez suficiente para absorver o golpe inicialmente desencadeado mas o grau de  liberdade pode ser esgotado rapidamente. Por sua vez, isso sugere portanto  que os bancos italianos não parecem ter  reposto muito dos  seus empréstimos contraídos ao abrigo do programa LTRO  e que isto não  ocorrerá até que a posição seja esclarecida, o que poderia levar uma grande parte do tempo que nos resta ainda deste ano.

O grilo, não um palhaço,  pode ser a imagem que esteja mais a propósito do Movimento de 5 estrelas. São várias as características de um grilo que são reveladoras. Os grilos  são facilmente e muitas vezes confundidos  com algo que não são (os gafanhotos). Os machos de ambas estas espécies  fazem um trinado, mas no grilo  o objectivo é mais o barulho do que a acção. Os gafanhotos são pragas e são vistos como uma peste pelos agricultores. Os grilos são consideravelmente menos prejudiciais, talvez porque eles vivem apenas durante algumas semanas, enquanto um gafanhoto pode viver durante um ano. O que pode também mostrar ser  uma espécie de antecipação da realidade,   os grilos são conhecidos por comerem os seus próprios  mortos. Com exclusão da  experiência americana, as revoluções são conhecidas por comerem  muitas vezes os seus próprios filhos.

(continua)

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