Selecção e tradução por Júlio Marques Mota
A Itália e a Primavera dos Mágicos
Jean Pierinot
Um governo do impossível
Está feito. A Itália ia bater o recorde de um país que está sem governo. No dia 29 de Abril, uma nova coligação do governo, liderada por Enrico Letta (partido democrático – PD), foi aprovada pelos deputados italianos, que votaram na confiança ao governo por 453 votos contra 153. No Senado, em 310 senadores que participaram na votação, 233-votaram ‘Sim’, 59 votaram ‘não’ e 18 abstiveram-se, anunciou o Presidente do Senado Pietro Grasso.
Enrico et François : um novo período para o crescimento
No seu discurso aos parlamentares, Letta revelou alguns pontos-chave do seu programa: uma redução no custo do trabalho e a eliminação do imposto sobre a habitação (IMU), duas medidas solicitadas pelos parceiros da coligação do Partido da Liberdade (PdL). Ele também deseja abolir o financiamento público dos partidos. Uma tarefa difícil!
Alfano, Berlusconi, Maroni: o fim de uma aliança ? O fim do financiamento dos partidos
Se o passado de Letta ajuda a tranquilizar os seus parceiros europeus, as suas afirmações em que diz que ‘ UE deve alterar estas políticas muito centradas sobre a austeridade, que já não são suficientes’, irritaram profundamente o governo alemão e nomeadamente o ministro das finanças Wolfgang Schäuble. Em Berlim, teme-se que o novo governo alimente o debate aberto na última semana pelas declarações do Presidente da Comissão Europeia José Manuel Barroso sobre os “limites de austeridade”.
Uma vitória para Berlusconi
Saído da cena política em Novembro de 2011, passado ao esquecimento por Mario Monti, rodeado por juízes em três processos no Tribunal de Milão (evasão fiscal, prostituição sobre menores e abuso de autoridade), le Cavaliere nunca mais voltará a ser o que era , pensa-se. Erro total. Bastou uma campanha eleitoral para que mais uma vez demonstre a sua capacidade de se bater quando ele está já encostado às cordas e a falar aos italianos.
Alfano, n ° 2 do governo. O homem de Berlusconi por quanto tempo?
A reeleição, no dia 20 de Abril, de Giorgio Napolitano, já muito velho (87) como Presidente da República, a designação, no dia 24 de Abril l, do jovem (90(6)) Enrico Letta para a Presidência do Conselho, dão-lhe força. Berlusconi permitiu um e outro, e o seu partido, o Povo da Liberdade, faz agora parte da nova maioria direita-esquerda-centro, de que ele se tornou um dos maiores accionistas. Não se aconselha que o queiram atrapalhar pois pode dar cabo desta estrutura muito frágil. “Eu apoio-te, mas tu ajudas-me para que eu não acabe na prisão. Caso contrário… “. “Berlusconi é incapaz de esconder a sua alegria”, observa Stefano Folli, editorialista do diário económico IL Sole 24 ore. O jornal Il Giornale, dirigido pelo seu irmão Paolo, não hesita em afirmar que “Berlusconi leva o país sobre os seus ombros”.
Um primeiro-ministro compatível com Berlusconi
Enrico Letta pertence à ala direita do Partido Democrata e veio da extinta Democracia Católica. Ele é sobrinho de um membro do grupo de gente muito próxima de Silvio Berlusconi, o que, sem dúvida, ajudou a permitir o nascimento desta coligação. Número 2 do PD, conseguiu assim formar um governo quase de unidade nacional.
Aquele que atraiu quase um quarto do eleitorado italiano nas últimas eleições gerais, Beppe Grillo, recusou-se a participar nesta coligação de esquerda-direita. Anti-establishment e eurocéptico, Beppe Grillo continua a desferir os seus ataques contra a classe política tradicional. Na semana passada, ele atacou com virulência o compromisso que tinha reconduzido à Presidência Giorgio Napolitano, por falta de outro candidato provável para se chegar a consenso.
No seu blog Beppe Grillo denuncia a “caldeirada ” que este governo significa, digno, na sua opinião, da “melhor bunga bunga’ (um termo que designou as festas de Berlusconi).
A Liga do Norte: contra-poder económico
Minoritário nas eleições legislativas, a liga do Norte teve a sua vingança nas eleições regionais no norte da Itália. Venceu nas três regiões mais ricas do país, o Partido Autonomista surge já como um porta-voz perturbador. A Liga Norte controla agora Piemonte, Lombardia e Veneto, ou seja, quase 60% do PIB italiano. “O nosso projecto é construir uma macro-região do Norte capaz de lidar com a Roma para obter tudo o que queremos“, disse o seu líder e o novo Presidente da Lombardia, Roberto Maroni. Beppe Grillo pelo movimento Cinque stelle e Roberto Maroni pela Liga agora representam a oposição.
Grillo et Maroni : A nova oposição
Para Letta, o mais difícil ainda está para vir. Em caso de falhanço deste governo de coligação antinatural, os vencidos de hoje serão os vencedores de amanhã.