ESTÁ-SE A VERIFICAR NO “COMPETE” ELEVADO NÚMERO DE DESISTÊNCIAS E DE ANULAÇÕES DE INVESTIMENTO PELAS EMPRESAS. Por EUGÉNIO ROSA – I

A QUEBRA DO INVESTIMENTO EM PORTUGAL, A ANULAÇÃO DE 295 PROJETOS NO VALOR DE 1.300 MILHÕES € COFINANCIADOS PELA U.E. SÓ EM 2012 E A REUNIÃO DOMINADA PELO  PENSAMENTO ECONÓMICO ÚNICO CONVOCADA PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

 

Não há crescimento económico nem criação de emprego sem investimento. E o aumento do investimento não tem lugar nem por decreto, nem por desejo do governo, nem por apelos do presidente da República, nem por outra qualquer causa menor como seja a redução do IRC. Uma empresa só investe se tiver possibilidades de vender o que vai produzir. Nenhuma empresa produz para “stock” nem para ser destruído, por mais facilidades que um governo conceda. É um raciocínio económico simples e elementar, mesmo compreendido pelos não-economistas, mas parece que o governo, o presidente da Republica e os seus defensores são incapazes de compreender. Daí o apelo ao investimento ao mesmo tempo que defendem e implementam medidas (cortes nos salários e pensões, aumento brutal de impostos, anuncio de mais um corte de 4,7 mil milhões € na despesa pública) que reduzem o já baixo poder de compra dos portugueses, diminuindo ainda mais a procura interna e, consequentemente, a possibilidade das empresas vender o que produzem. E em 2013, a politica de redução dos rendimentos dos  trabalhadores portugueses continua como mostra o gráfico 1 divulgado pelo Eurostat.

Gráfico 1 – Variação em % do custo  da hora trabalho nos países da U.E. no 1º Trim.2013

Investimento - III

FONTE: Comunicado de imprensa – 95/2013 – Euro-indicadores – 17 de Junho de 2013 – Eurostat

Em Portugal, no 1º Trimestre de 2013 o custo nominal da hora de trabalho em toda a economia diminuiu em 0,3%, quando na U.E. aumentou em média em 2%. E aquela redução foi, em termos nominais, porque em termos reais a descida foi muito maior, o que agrava a diminuição dos rendimentos do trabalho e, consequentemente, a quebra da procura interna, aumentando as dificuldades das empresas em vender o que produzem.

Se adicionarmos a tudo isto, a redução brutal do investimento público (entre 2010 e 2012, segundo o Eurostat, diminuiu de 3,8% do PIB para apenas 1,8%, ou seja, em 52,6%), que era o que podia ainda contribuir para inverter uma situação extremamente grave, junto à quebra da procura externa, revelada pela diminuição da taxa de crescimento das exportações (nos primeiros 4 meses de 2013 as exportações aumentaram apenas 3,9% relativamente a idêntico período de 2012), é cada vez mais evidente que a politica imposta ao pais pelo governo PSD/CDS  e pela “troika” está a criar uma situação insustentável.

A reforçar a conclusão anterior, estão os últimos dados divulgados pelo Banco de Portugal no seu Boletim Estatístico de Junho de 2013 que revelam que, contrariamente ao que afirma Passos Coelho que começou de novo a falar de retoma económica para iludir a opinião pública (“Esperamos que até final do ano haja viragem da tendência económica”, disse ele em 28.6.2013), a situação económica e financeira do país continua-se a agravar.

Entre 2011 e Março de 2013, a divida bruta do país ao estrangeiro (inclui a divida pública e a divida privada) aumentou de 472.979 milhões € para 482.729 milhões € (a divida liquida externa, medida pela “Posição do Investimento Internacional”, cresceu de 179.406 milhões € para 194.151 milhões €) e a divida das Administrações Públicas aumentou, no mesmo período, de 214.378 milhões € para  244.764 milhões € sendo, em Março de 2013, 139.424 milhões € divida ao exterior. São números gigantescos que demonstram bem o caracter  suicidário da política que está a ser seguida.

É neste contexto concreto que o presidente da República decide convocar uma reunião de economistas para debater a situação económica do país. Mas tem a preocupação de escolher principalmente economistas que, na sua quase totalidade, são defensores do pensamento económico único neoliberal dominante. E os resultados são previsíveis:- que será preciso continuar, mesmo quando chegar a Junho de 2014 e a “troika” terminar o seu mandato, com a politica que está a destruir a economia e a sociedade portuguesa, sendo necessário um novo programa cautelar, agora sob a direção do BCE e CE, para dar confiança aos mercados. Desta forma, e utilizando uma conferência de”sábios e especialistas” vai-se procurar convencer a opinião pública portuguesa que a politica que está a ser seguida é inevitável, e tem de ser prosseguida para além da “troika”. Incapazes de se libertarem do quadro mental do pensamento económico neoliberal dominante, os economistas escolhidos a dedo pelo presidente da Republica para ir à reunião servirão fundamentalmente para procurar dar o aval e convencer os portugueses que o caminho a prosseguir é o que tem sido seguido, e que não existem outras alternativas. É uma reunião cujo resultado está viciado à partida e que com todas as probabilidades não trará nenhuma perspetiva nova para o país e para o futuro dos portugueses.

(continua) 

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