POESIA AO AMANHECER – 280 – por Manuel Simões

poesiaamanhecer

MARIA ALZIRA SEIXO

( 1941 )

ETERNIDADE

Nunca resistirei à procura doce das algas sob o pé

amaciado pela estria fina da água  a  vir.     Seme-

lhando pedras, cais  turvos,  friezas  de  enquanto

ressentir a torpeza mole de mastros desarvorados,

pinheiros descem a encosta vermelha  conhecida.

De costas contemplo a sombra,apontamento manso

da hora dita solar. Virás quietamente, tronco am-

parado de ventos, cabelo de cinza no sorriso dado

ao ar. Não te digo que o encontro  é uma  citação

de luz, que só o apoio das mãos e a correspondên-

cia do hálito entendes.Por isso me deixo submergir

pelas águas vastas, algas toldando este corpo que

de cabelos se cobre, flutua e morre.

(de “Letra da Terra”)

Mais conhecida como ensaísta de referência, marcando certamente os estudos literários em Portugal. Dirigiu a colecção “Textos Literários” (Comunicação) e algumas revistas, entre as quais “Dedalus”. Publicou os seguintes livros de poesia: “Nove Proposições de Diana ou o Pinhal” (1977), “A Catedral” (1980), “A Condição do Olhar” (1981), “Letra da Terra” (1983), “Diário do Lago” (2002).

Leave a Reply