Selecção, tradução e introdução por Júlio Marques Mota
Parte II
(continuação)
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2. Os efeitos de repercussão entre países
Os efeitos de repercussão entre os países exacerbaram os efeitos negativos das consolidações. Nesta seção examinamos as repercussões das sucessivas consolidações fiscais. A primeira subsecção assume o caso de Espanha e ilustra os canais de repercussão comparando consolidações baseadas na despesa com consolidações baseadas sobre os rendimentos. Então a segunda subsecção sintetiza os efeitos de repercussão sobre o PIB para as consolidações de composição equilibrada para cada um dos outros países.
Em geral podem ser considerados os seguintes tipos de efeitos de repercussão :
1. Os efeitos de repercussão sobre as variações na despesa e que resultam da acção da política de um país (redução do crescimento por efeito das consolidações fiscais) influenciam os fluxos de importações e de exportações com as outras economias dos Estados membros. Como as medidas de consolidação reduzem o crescimento e a procura interna, as medidas empreendidas num país tem um efeito de repercussão negativo sobre a procura nos outros países
2. Os efeitos de competitividade, resultantes dos choques de política deflacionista, por exemplo, colocam uma pressão à baixa sobre os preços e sobre os salários e melhoram a sua competitividade, mas que representem um efeito de repercussão negativa para os países concorrentes, possivelmente a reforçarem o efeito de repercussão negativo da procura
3. Os fluxos financeiros internacionais provocados por reformas num país têm efeitos nos outros países. Por exemplo, as reformas que reduzem a taxa de retorno sobre o capital podem levar a saídas de capital até que as taxas de retorno sejam iguais internacionalmente. Os movimentos da taxa de câmbio associadas com fluxos internacionais de capital podem induzir mais fluxos comerciais.
Esses efeitos de repercussão são capturados endogenamente nas simulações do modelo. Um potencial efeito de repercussão adicional que não é endogenamente capturado nas simulações está relacionado com o possível contágio dos prémios de risco. A crise de dívida soberana tem mostrado como outros factores, por exemplo as incertezas relacionadas com os efeitos de reacção entre bancos e dívida soberana e os passivos do sector público e os riscos percebidos de redenominação de activos, pode contribuir para desviar os custos do endividamento público dos seus níveis de equilíbrio de longo prazo. No modelo as simulações sobre o rendimento dos títulos do governo dependem da relação actual da dívida interna/ PIB e os rendimentos seguem um caminho semelhante aos perfis de dívida. Na medida em que as medidas de consolidação inicialmente aumentariam os rácios da dívida / PIB os prémios de risco aumento nas simulações dos modelos a curto prazo, enquanto eles declinam acentuadamente a médio prazo com a queda de rácios de dívida. Mas estes dependem de cada rácio de dívida / PIB do país considerado e, como a parametrização assume um efeito relativamente pequeno, com base nas estimativas empíricas disponíveis, o aumento em prémios de risco é relativamente pequeno. Os primeiros cenários aqui apresentados não incluem correlações cruzadas adicionais dos prémios de risco soberano, mas na seção 4 descreve-se um cenário onde esses efeitos são adicionados numa uma simulação ao longo do período de 2011-13.
2.1 As consolidações pela despesas-vs consolidações pelos rendimentos em Espanha
As consolidações baseadas na despesa têm multiplicadores de maior impacto do que as consolidações baseadas nas receitas . A Figura 1 ilustra isto mesmo e mostra o impacto do PIB para três rodadas sucessivas de consolidação de 1% do PIB por ano para consolidações baseadas em despesas e em receitas, assumindo uma aprendizagem gradual. 5 Para as consolidações baseadas nas receitas, o multiplicador de impacto para Espanha é em torno de 0,5, enquanto que para a consolidação baseada na despesa situa-se á volta de 1.1 e para uma composição equilibrada de consolidação anda em torno de 0,8. Enquanto o impacto do PIB é maior para consolidações baseadas na despesa, isso inverte-se a médio prazo e as consolidações baseadas nas receitas têm um impacto mais negativo no longo prazo.
Figure 1. O impacto sobre o PIB de sucessivas consolidações em Espanha de 1% of GDP
A tabela 1 mostra os efeitos macroeconómicos para Espanha e os efeitos de repercussão sobre o PIB para os outros Estados-Membros. [Claramente uma política de consolidação assente nas despesas tem de imediato os efeitos mais catastróficos, como se vê pela linha a ponteado de cor verde. Mas é nesta que se quer incidir e cada vez mais] . Os dois principais canais dos efeitos de repercussão são através de efeitos sobre a procura e sobre a competitividade. As medidas de austeridade reduzem as importações domésticas. Para os países parceiros, isso significa menor procura das suas exportações. Este efeito sobre a procura pode ser reforçado pelos efeitos da competitividade. As consolidações são deflacionárias e melhoram a competitividade do país que realizou a consolidação (um aumento da taxa de câmbio efectiva real é uma depreciação). Sob a suposição de não se verificar nenhuma resposta ao nível da taxa de juro nominal face à consolidação orçamental a taxa de câmbio nominal também se aprecia. As consolidações baseadas nas receitas incluem medidas que aumentam os preços e melhoram menos a competitividade (taxa de câmbio efectiva real aumenta menos – ver tabela 1). Daí que as consolidações baseadas nas receitas conduzem a uma menor posição da balança corrente e os efeitos de repercussões face aos seus parceiros comerciais são menores do que com as consolidações baseadas na despesa.
Em geral, os efeitos de repercussão de uma consolidação em Espanha em face dos outros parceiros comerciais são superiores em 10 por cento ao efeito do PIB, mas é de cerca de duas vezes ao efeito do PIB para Portugal. Quando a consolidação se torna totalmente credível e a incerteza é eliminada, há uma nítida recuperação do PIB em Espanha. Isso reduz as repercussões negativas da procura aos parceiros comerciais, e o crescimento é mais apoiado numa depreciação da taxa de câmbio que se segue a uma apreciação inicial.
(continua)
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Para ler a introdução e a Parte I deste trabalho de Jan int’t Veld, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas vá a:
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