Selecção e tradução do Júlio Marques Mota
Depois do Libor, será que o mercado de câmbios corre o risco de explodir?
Georges Ugeux
Há vários meses que nuvens escuras projectam a sua sombra sobre o mercado cambial. Índices que se assemelham furiosamente, aos que tinham precedido o escândalo da Libor mostraram disfuncionamentos e manipulações que custaram milhares de milhões em multas aplicadas a todos os grandes bancos mundiais, instauração de processos penais e civil e demissões que encheram as crónicas dos grandes jornais e levaram a uma profunda reforma deste mercado auto-regulado.
As autoridades estão preocupadas
Muito discretamente, sob a égide do Banco Central Europeu, os banqueiros e os reguladores reuniram-se na semana passada. Esta reunião deu mesmo aso a produção de um documento que permite dar conta desta mesma preocupação. Com todas as letras os participantes consideraram existir um possível “conluio entre alguns bancos e uma manipulação da taxa de câmbio antes do “fixing ” que caracteriza este mercado. ‘ O Comité especializado do Banco de Inglaterra que supervisiona 40% do mercado, na City de Londres, não se refere a este problema nas suas minutas de 27 de Setembro de 2013.
O ‘fixing’, no entanto, não é mais do que uma fracção do mercado de câmbios, que funciona praticamente 24 horas por dia e 7 dias por semana devido às diferenças dos fusos horários. Isto é o que o torna vulnerável à manipulação. Esse mecanismo está sob a lupa dos reguladores.
O volume diário excede 5000 milhares de milhões de dólares dos quais 25% estão relacionados com o mercado do dólar/Euro, seguido pelo mercados do dólar/iene, e dólar/libra. No total, estas três moedas representam 50% do mercado, de acordo com o estudo trienal do Banco de Pagamentos Internacionais, o banco dos bancos centrais, localizado em Basileia.
Se não houvesse nenhum fixing seria muito difícil haver manipulação mas o fixing é essencial para se ter uma forma de orientação do mercado. Uma reforma do “leilão” está no ar.
Rumores recentes
Várias informações dão uma ideia do nervosismo dos bancos.
Alguns traders foram postos “em suspensão de actividade nas salas dos mercados” durante a investigação. Os bancos proibiram o uso de “chatrooms” especializados que permitiam aos traders comunicarem livremente uns com os outros. Foi uma denúncia feita por um “informador” destas práticas de «chat» entre concorrentes que está originalmente, desde Maio passado, na base de uma onda de investigações. Uma pergunta a levantar nos debates sempre eternos sobre o uso adequado dos media sociais. Os mais conhecidos chatrooms foram alcunhados com o curioso nome O Cartel ou o “Clube dos Bandidos” .
Em todos os bancos as investigações já começaram, e com elas procura-se obter informações mais precisas sobre os comportamentos das suas salas de câmbios.
Semelhanças com a Libor
O fixing é um mecanismo semelhante à fixação da Libor que ocorre às 11:00, horário de Londres, uma vez por dia e influencia a taxa de juros de 360 mil milhões de dólares de créditos e títulos.
Este mercado é largamente dominado por quinze bancos incluindo Société Generale, BNP Paribas, Deutsche Bank, Citibank, JP Morgan, HSBC, Barclays e outros. O problema é global e afecta além dos principais mercados, Suíça, China, Hong Kong, Bombaim e outros.
O mercado também é auto-regulado e o papel dos bancos centrais é mais discreto do que autoritário. Face a mais de 2000 mil milhões por dia, o Banco da Inglaterra está novamente na mira. O seu novo governador (canadiano) tem pois muita coisa a fazer.
A esperar o quê?
É muito cedo para saber se as acções tão brutais como aquelas que afectaram o mercado de Libor são previsíveis neste caso. As sanções atingirão elas despedimentos ou milhares de milhões de multas? Vai ser difícil aos bancos fingirem que ‘não sabiam’, a sua desculpa favorita para punir os executantes.
O impacto sobre os particulares é mínimo, mas as instituições e as empresas (pequenas e grandes) muitas vezes dependem deste mercado para adquirir o dinheiro necessário para as suas despesas ou para converter moeda estrangeira em moeda local. Cerca de 80% do mercado de futuros é executado através de opções ou swaps.
Esta é um outro segmento das actividades financeiras, que faz aparecerem estruturas que permitem às direcções das instituições financeiras melhorarem os seus finais de mês manipulando os activos de que têm a responsabilidade. O saneamento no mundo da finança não é ainda para amanhã.
Entretanto, a concorrência é brutal e um bom “trader forex” vale 2 milhões de dólares em Londres, de acordo com os veteranos entrevistados pelo Financial Times.
Georges Ugeux, Après le Libor, le marché des changes risque-t-il d’imploser ?, Le Monde Dezembro de 2013.
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– Um comentário sobre o texto.
- Pensar regular o mercado cambial é um verdadeiro desafio intelectual
Como impedir que um trader deixe de ter acesso à Internet e, portanto, aos blogs e à sala de chat e aos fluxos IRC de outros traders? Confiscando-lhe o seu smartfone ? O Forex agora assemelha-se a um cassino global, onde se aposta, se perde ou se ganha . Proibir ou regular o jogo da sorte nunca teve nenhum sucesso, mesmo em ditaduras como a República Popular da China.
É preferível que nos interroguemos sobre o que torna possível estar a apostar sobre as divisas, qual é o elemento do acaso nas taxas de câmbio, quem substitui a roleta ou a ordem aleatória de um jogo de cartas.
Uma primeira resposta é a seguinte: o comportamento aleatório dos bancos centrais, que, na sequência dos seus objectivos mais ou menos racionais, manipulam a cotação das moedas por operações nos mercados e por declarações imprevisíveis. Segue-se a ideia doentia que a moeda deve ser uma ferramenta para manipular de modo a alcançar metas de política económica, visto que não é mais possível criar riqueza através da manipulação de moeda como não o é para criar energia. E, finalmente, se quer saber o que isso traz, tem uma moeda diferente para cada país. Talvez o poder de jogar impunemente os falsificadores para os líderes de cada país?
E, finalmente, podemo-nos interrogar o que isso nos traz, ter uma moeda diferente para cada país. Talvez o poder de jogar impunemente concedido aos falsificadores e para os líderes de cada país?
Com uma moeda única no planeta [ou com câmbios fixos e ajustáveis sob a égide do FMI?], suprimir-se-ia para sempre o casino do Forex, e os seus numerosos interessados teriam a opção de tentar a sua sorte em Macau ou em Las Vegas, ou então usar a sua inteligência em actividades mais úteis para a humanidade.
1 décembre 2013, par Georges Ugeux
Depois do Libor, o mercado de câmbios corre ele o risco de explodir?
Après le Libor, le marché des changes risque-t-il d’imploser ?
Rédigé par: habsb | le 2 décembre 2013 à 04:38 | Répondre Signaler un abus |