A dicotomia livro impresso – e-book, constitui, quanto a nós, um falso problema. O incunábulo não destruiu o códice – multiplicou-o… As novas tecnologias não são inimigas do livro – são novos eixos de escrita e, como diz Clara Castilho, mais do que nunca é preciso ler.
D. Diniz
Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
o plantador de naus a haver,
e ouve um silêncio múrmuro comsigo:
é o rumor dos pinhaes que, como um trigo
de Império, ondulam sem se poder ver.
Arroio, esse cantar, jovem e puro,
busca o oceano por achar;
e a falla dos pinhaes, marulho obscuro,
é o som presente desse mar futuro,
é a voz da terra anciando pelo mar.
Fernando Pessoa
Foi assim que Elisa Costa Pinto, ex-professora na Escola Secundária Professor José Augusto Lucas, , em Linda-a-Velha, autora na empresa Raiz Editora de manuais de português para vários graus de ensino, iniciou a sua intervenção no Encontro A Urgência da Literatura, inserida na Mesa “Políticas de literatura: exigência escolar, a universidade e o ensino da literatura”.
Carlos Mendes de Sousa, Maria Alzira Seixo, Helena Buescu, Elisa Costa Pinto e José Augusto Cardoso Bernandes
Considerou que é difícil aos alunos perceberem este texto, dada a ignorância fomentada pelos programas de Língua Portuguesa. Desenvolveu o que chamou “equívocos da defesa do ensino de Português que privilegia a gramática” e que assentam em três equívocos:
– o de acreditar que os textos literários eram muito difíceis para os alunos e de que se pensar que, dando-lhes textos mais simples, por vezes sem qualidade, se poderia combater a iliteracia. A verdade é que preferem um bom poema de Sophia Andersen ou um divertido texto de Eça de Queiroz. Se no primeiro tipo de textos, mais informativos, se mobiliza unicamente a informação, nos textos literários mobiliza-se a reflexão e a análise crítica, apontando para um olhar interpretativo da vida e do mundo.
– o de que privilegiar o texto literário promove a desigualdade, havendo quem considere que o ensino da literatura exclui os mais desfavorecidos. Ora, só se consegue que a escola seja um espaço de igualdade se abrir horizontes aos alunos. E aqui elogiou o papel das bibliotecas escolares que têm ido contra esta maré.
– o de que os alunos só apreciam e compreendem os textos actuais, o que levou ao abandono dos clássicos.
“Não preciso de lembrar a importância de que se reveste a poesia trovadoresca galaico-portuguesa, sobretudo as cantigas de amigo, na sua espantosa riqueza e originalidade. Num país que enche a boca com os seus 9 séculos de História, o apagamento da sua voz literária e linguística inicial é, para mim, absolutamente incompreensível. (…)
A verdade é que não basta querer promover a exigência como caminho para a criação de uma sociedade moderna, inteligente e crítica. É necessário criar as condições que permitam, de forma inclusiva, o exercício dessa exigência. Caso contrário, a exclusão dos mais desprotegidos será mesmo uma inevitabilidade. Uma imoralidade. Uma tragédia de que nos envergonharemos no futuro. (…)
*Um artigo bem pertinente que remete para uma caminhada aliciante diricionada aos PROFESSORES de PORTUGUS -Maria *
Como podem os educadores aguentar e ter o mais desejado sucesso na sua actividade de ajudar a formar Mulheres e Homens cultos e cidadãos bem apetrechados para viver e desenvolver a Democracia, quando a concorrência rasca da TV , todos os dias, hora a hora, promove a rarefacção continuada da cultura, por desígnio, do seu instrumento privilegiado,a leitura.CLV