Temos, desde que o blogue existe, a intenção de lançar um grande debate sobre o livro, os escritores e as profissões relacionadas com o livro, com o público, em suma, com a situação do livro e com o seu futuro. A própria criação desta rubrica se insere na preocupação de abordar essa problemática. Há muitas ideias feitas, um certo maniqueísmo que dá ao editor o papel do abutre que explora a obra do indefeso autor. Tudo isso, ideias feitas inclusive, pode e deve ser discutido. O artigo de Clara Castilho dá-nos conta da necessidade de clarificação existente no universo que existe em torno do livro.
Falemos hoje do que o editor Manuel Alberto Valente nos transmitiu no Encontro A Urgência da Literatura, inserido na Mesa “Pensar a Literatura: as editoras, os escritores, o jornalismo e as instituições”, no passado dia 11 de Janeiro.
Partilhou connosco o seguinte: há uns anos atrás o centro das edições eram os autores. Os próprios editores eram-no porque gostavam de livros, sendo ao mesmo tempo criadores e proprietários. Traduziam-se e publicavam-se grandes autores clássicos, mas também novos escritores.
José Carlos Vasconcelos, Manuel Alberto Valente, Ana Paula Laborinho, António Carlos Cortez e Teolinda Gersão
Com a transferência da indústria editorial, começaram a entrar em cena os grupos editoriais. Os proprietários deixaram de ser pessoas que gostavam de livros, e o centro da edição passou a ser o leitor. A pergunta tornou-se nesta: “O que é que o leitor quer ler?”. Sendo, aparentemente uma pergunta democrática, o que se verifica é que, geralmente, o que o leitor quer ler são textos de má qualidade.
O editor passou a ser um gerente a representar um qualquer capital, deixando de interessar o autor. Ao tornarem-se grandes entidades de negócio, a meta essencial da sua actividade não é a produção de leitura de “qualidade”, mas a venda de livros “auditada”, havendo mesmo contagem em caixa, de quantos livros se vendem. Por exemplo, no ano passado, quis editar Carlos Fuentes e só se venderam 200 exemplares…
No entanto, e apesar disto, continuam a existir pequenas editores que lutam contra a maré, de uma forma quase subversiva.
À pergunta de se as editoras contribuem para a leitura, respondeu afirmativamente. De facto, hoje lê-se muito mais. Mas fica no ar: lê-se o quê?
As suas afirmações foram no caminho de considerar que há dois países com duas culturas: por exemplo, o luto nacional para Saramago foi de dois dias e para o Eusébio foi de três…
Contacta que muitos dos actuais escritores fazem-no sem lerem grandes leitores. O tempo é curto, e ler ocupa muito tempo…Para ele, alguém que pense em escrever sem ler, não o consegue fazer devidamente.
Abordando a questão das novas possibilidades de auto-edição digital, considerou que se pode ganhar em democracia, mas que se pode perder em qualidade.
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