EDITORIAL – DE ROSA LUXEMBURGO À MARINHA GRANDE

Imagem2Quando Mário Soares, no seu discurso da Fonte Luminosa, em 19 de Julho de 1975, denunciando prepotências e exageros das esquerdas e defendendo a necessidade de, na sequência da Revolução de Abril, implantar um socialismo de rosto humano, um socialismo em liberdade, deu passagem  a tudo o que de indesejável os partidos e movimentos de esquerda, com as tais prepotências, radicalismos, exageros pueris, tentavam opor barreiras. Como quando abrimos a porta a um amigo e, atrás dele ,entra de roldão um bando de marginais.

Passam esta semana dois aniversários que são simbólicos  e que, de certo modo, resumem a situação trágica que vivemos. Na quarta-feira, dia 15, completaram-se 95 anos sobre o assassínio de Rosa Luxemburgo e de Karl Liebknecht. Amanhã, dia 18, faz 80 anos que o levantamento da Marinha Grande foi jugulado.  Duas derrotas dos que lutam pela vitória do socialismo e sabem que a alternativa ao seu advento é a barbárie capitalista – a vitória do ter sobre o ser. O triunfo dos porcos, usando o metafórico título de George Orwell.

A expressão «socialismo ou barbárie» teve origem numa frase de Rosa Luxemburgo, uma alemã de origem polaca, fundadora, com Karl Liebknecht, da Liga Spartaquista. Em 15 de Janeiro de 1919, na sequência de um levantamento Spartaquista que Liebknecht e centenas de militantes da Liga desencadearam em Berlim, centenas de spartaquistas foram torturados e executados sem julgamento. Karl e Rosa entre eles.

Em 18 de Janeiro de 1934, eclodiu na Marinha Grande um movimento de raiz anarco-sindicalista contra a ditadura que, implantada pela marcha sobre Lisboa de Gomes da Costa em 28 de Maio de 1926, se prolongou no Estado Novo de Salazar. Durante algumas horas, a vila esteve ocupada pelos revolucionários, até que as forças militares que iam chegando os foram cercando, jugulando de forma violenta a revolta. Falaremos desse acontecimento amanhã. Hoje, neste Diário de Bordo, deixamos a chamada de atenção para as duas efemérides que, de certo modo, encerram a prova de que para uma solução socialista, com tudo o que de desagradável que a mudança de paradigma possa implicar, só há a alternativa da barbárie, como disse Rosa Luxemburgo. O socialismo em liberdade, ou seja, um socialismo que não oponha barreiras às «liberdades», depressa se transforma num capitalismo à solta – depressa se transforma no advento da barbárie.

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