Saltam as rolhas do caro champagne em Lisboa porque a crise acabou, disparam-se os primeiros tiros de bazuca a partir dos mercados financeiros porque a crise se intensificou
Júlio Marques Mota
PARTE III
(continuação)
…
Segundo o que nos dizem as Figuras VIIa, VIIb:
O rácio Dívida/PIB é muito elevado, mesmo não ajustado, e a crescer 1% ao mês.
Tudo leva a crer que Portugal parece ser o terceiro país mais alavancado da zona Euro.
A métrica normalmente utilizada é a que se observa nas Figuras VIIa, VIIb :
Figura VIIa e VIIb – Rácio Divida/PIB
Mas Tortus, na linha de muita gente (de certa esquerda), propõe uma outra métrica quanto ao endividamento público e que é a relação entre a dívida pública e as suas receitas públicas, até porque é das receitas públicas que sai o pagamento do serviço da dívida e esta medida aqui pode ser mesmo relevante tendo em conta a extraordinária carga fiscal do povo português. Devemos porém olhar para os parceiros da desgraça que acompanham Portugal neste item, assim como nos seguintes. E mais uma vez nem sequer se entende porque é Portugal a única referência no texto de Tortus.
A segunda métrica para a dívida é-nos cedida pelas Figuras VIIIa, VIIIb em baixo:
Figuras VIIIa e VIIIb – … Divida/Receita é mais revelante…
De novo peço aos leitores que olhem para os países que são os nossos companheiros da desgraça neste item.
Quanto ao serviço da dívida temos pela mesma lógica uma outra métrica que é não comparar a carga da dívida ao PIB mas sim face às receitas do Estado. Neste caso observe-se as Figuras IXa, IXb em baixo.
Figuras IXa, IXb – … Fracção da divida mais importante…
Entrando em conta com as necessidades para que haja crescimento e com a despesa em juros, o fardo da dívida é o mais elevado na zona euro e não é sustentável…
Todavia, 40 anos consecutivos de défice e 18 anos sem um excedente primário confirmam que a economia portuguesa não pode sustentar tanta dívida.
Assim, o peso da dívida é muito alto, digamos, e sendo optimistas, cerca de 30%. Mas como é que Portugal se pode financiar? Ah, veja-se a Figura X em baixo:
Figura X – Portugal já beneficia de níveis extraordinários de solidariedade
Mas, lembremo-nos que o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Comissão Europeia (CE) tinham definido um défice de 3% do PIB no ano passado, enquanto que se prevê que se encontre entre 5,5 a 6%, dependendo se no défice se inclui a recapitalização da banca ou não. Em parte, isto acontece porque o denominador se tem estado a reduzir. Era suposto que o PIB fosse de €174 mil milhões no ano passado, mas vai acabar em cerca de €165 mil milhões.
Tal como a Itália, a Irlanda, Chipre, a Espanha (mas no texto ostensivamente não se fala nestes países, tomando Portugal como uma caso isolado) o fardo da dívida continua a crescer, quando o custo do serviço da dívida excede o crescimento económico. Todavia, o Hedge fund Tortus Capital diz que Portugal precisa de uma taxa de crescimento nominal de 3,5% ao ano para poder rectificar a situação.
(continua)
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Para ler a Parte II deste texto de Júlio Marques Mota, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas, vá a:
RETRATOS, IMAGENS, SÍNTESE DOS EFEITOS DA CRISE DA ZONA EURO SOBRE CADA PAÍS
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