Não há poeta para a réstia de sol de um rosto engelhado de
luz não há poeta para o poema da eternidade num só momento.
Não há poeta para a singeleza do pensamento feito suspiro de
terra seca num beijo de primeira chuva na melodia do sol-pôr dormindo num
estuário de rugas cavadas de longas madrugadas.
Não há poeta para a liberdade de criar sem algemas a
majestade de um só verso feito sorriso de cristal
não há poeta para tão serena
harmonia da assilabada amargura do peso do tempo.
Não há poeta para a nudez da vida perdida para lá de um
rosto apagado de ilusões não há poeta para uma réstia de sol
pousada nos olhos do silêncio entre a vida e a morte.
Ilustração: quadro de Adão Cruz