CARTA DE VENEZA – 72 – “1914 – A Grande Guerra: no centenário de um absurdo absoluto“ – por Sílvio Castro

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                Um dos grandes eventos históricos deste 2014 é aquele do centenário da I Grande Guerra, 1914-1918, gênese de todos os conflitos que ensanguinaram o inteiro século XX.

  Visto com os olhos da história praticamente mudada, o grande episódio de 14 não pode ser compreendido senão a partir do conceito do absurdo. Tudo então acontece como se a humanidade tivesse tomado uma estrada absolutamente desconhecida e em forte contraste com quanto o homem civil soubera fazer e viver até então. A caída desse homem, predominantemente europeu – pois até 1914 o mundo se reflete na Europa. condicionadora da cultura e da economia internacionais – é vertical. Antes. ele soubera conviver tanto com a maioria, quanto com a minoria de que eram feitos os povos. E os direitos civis, em particular a vida de cada indivíduo, eram um bem para quase todos os homens dessa época muito especial.

 Em 1918, caída definitivamente a antiga estrutura européia, tem início então o século americano, sustentado pelo poder econômico e militar dos Estados Unidos.

 O absurdo absoluto começa em 28 de junho de 1914 quando, em Saraievo, o príncipe asburgo Francisco Fernando, herdeiro ao trono da não muita amada dinastia austro-húngara, vem assassinado pelo terrorista serbo-bosníaco Gavrilo Princip. A partir de então toda a Europa, composta de muitas monarquias e de uma só grande república, a França, entra em combustão. Por todo o continente perpassa um vento totalmente novo, belicoso, de grande euforia por tudo que se referisse a guerra. Os jovens pareciam tomados por uma alucinação que os conduzia fatalmente à morte.

 Ao lado desse novo espírito guerreiro, surge um correspondente de grande perigo, até então quase que completamente desconhecido; o nacionalismo. Por todos os países europeus, aqueles mesmos jovens inebriados do odor mortal dos conflitos bélicos se exaltam nos cantos em louvor das próprias nações.

 O nacionalismo, muito possivelmente, é dos mais negativos portos abertos pelo evento de 1914-1918. De um tal malefício se fortaleceram os regimes totalitários que, a partir de 1939, repetirão as tragédias da I Grande Guerra mundial. Então, quanto a Guerra de 14 soubera criar de novo para a desgraça do mundo e dos homens se multiplica. A começar por uma espécie de globalização da violência, antes apanágio somente dos delimitados campos de batalha, violência essa então chegada até as populações civis; os primeiros bombardeamentos aéreos; o uso difuso do gaz letal contra as populações indefesas, tudo isso num ritmo vertiginoso que parecia sem fim.

 Depois de um início como que circunscrito às monarquias mais diretamente intessadas, a Grande Guerra se alastra, provocando a entrada Imagem2no conflito por parte dos Estados Unidos, com a finalidade de unificador da defesa contra a Áustria e a Alemanha, bem como a correspondente de outros países, como Portugal e Brasil, com contribuições certamente mais reduzidas.  Aos leitores dessa Carta apresento a visão de um documento de grande importância histórica e, igualmente, artística, precioso pezzo da “Coleção privada de Sílvio Castro“: um desenho original, datado 1916 e assinado possivelmente por um dos militares em ação bélica, de uma trincheira austríaca em plena atividade. A trincheira austríaca se encontrava diante das fronteiras italianas, nos momentos próximos à explosão da infausta batalha para os italianos e da histórica retirada de Caporeto, em 1917.

Depois desses insucessos, a Itália se lançará deifinitivamente no grande conflito, concluído para as tropas italianas com grande êxito militar que, entretanto, não encontra coerente correspondência nos resultados políticos que o país viverá logo depois, sempre em muita razão do nacionalismo que a Grande Guerra soubera espalhar pelas mais diversas partes do mundo.

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