O 31 de Janeiro foi a primeira tentativa de implantar a república em Portugal. A relevância histórica deste acontecimento é de primeira grandeza. E tem de se salientar que não aconteceu no Porto por acaso. Durante o século XIX, a vida política portuguesa foi agitada por numerosas convulsões, na sua maioria sob influência dos grandes conflitos internacionais do tempo. A disseminação das ideias progressistas propagadas na sequência da Revolução Francesa teve impacto considerável, os acontecimentos que iam ocorrendo em Espanha também, claro que sobretudo junto das pessoas mais instruídas, que mais facilmente se apercebiam do que se passava lá fora, e das consequências respectivas.
Evidentemente que foi sobretudo nos meios urbanos que essas ideias granjearam mais adeptos. O Porto, o centro mais importante do Norte, com muitas ligações ao estrangeiro, com destaque para o Reino Unido, desempenhou um papel de relevo na maioria das grandes movimentações políticas ocorridas em Portugal no século XIX. O desenvolvimento económico e cultural da cidade contribuiu poderosamente para que desempenhasse esse papel. Várias das acções promovidas pelos portuenses ao longo deste período foram decisivas para o avanço da democracia em Portugal. O seu desenrolar culminou no 31 de Janeiro, quase vinte anos antes do 5 de Outubro. Há que destacar em primeiro lugar que o Porto foi o centro de onde o liberalismo (o liberalismo vintista) irradiou para todo o país. Foi a partir do Sinédrio, uma tertúlia política formada em 1818 por cidadãos portuenses, ou ligados intimamente à cidade, com destaque para o magistrado Manuel Fernandes Tomás (1771-1822), que se formou o movimento que levou à Revolução de 1820 e à elaboração da Constituição de 1820.
Grande número de cidadãos portuenses, ou de algum modo ligados ao Porto, tiveram participação notória na vida nacional nos anos seguintes, como Almeida Garrett, os irmãos Silva Passos, José Ferreira Borges, José da Silva Carvalho; Manuel Borges Carneiro e tantos outros. Manuel Fernandes Tomás, considerado como o patriarca da Revolução, integrou a Junta Provisional do Governo Supremo do Reino e apresentou ao parlamento, em 1821, o Relatório do Estado Público de Portugal. A sua morte, no ano seguinte, afectou seriamente os acontecimentos políticos que se seguiram.