Dia do Porto: O PORTO VISTO DO AR – Por Ricardo Fonseca

O Porto visto do ar

Fotografia: RICARDO FONSECA
Fotografia: RICARDO FONSECA


A fotografia viveu na cidade do Porto um período de enorme entusiasmo nos anos 50 a 70.

Na AFP – Associação Fotográfica do Porto, sediada na Rua de Santa Catarina, pelo menos duas vezes por semana, reunia-se um significativo número de fotógrafos amadores em animadas tertúlias que normalmente se prolongavam à mesa do Magestic até à hora do seu encerramento.

Mensalmente organizavam-se sessões de critica em que os mais experientes julgavam, por vezes de forma demasiado cruel, os trabalhos que os mais jovens submetiam à apreciação. Contávamos normalmente com a presença de António Mendes, o então Director de Fotografia  de Manoel de Oliveira, que assinou a fotografia do Aniki-Bóbó, terrível  a julgar mas sempre com contributos preciosos na apreciação que fazia às fotografia.

A Ribeira era o local de eleição dos membro da Associação. As suas gentes eram um manancial inesgotável de motivos fotográficos. Nos fins de semana as tertúlias da AFP continuavam na Ribeira. Diria que um grupo dos mais assíduos era já parte integrante da paisagem da Ribeira aos fins de semana. Deste facto resultava um problema; fotografias quase iguais consequência de muitas serem feitas em grupo.

Integrei então um pequeno grupo da AFP que olhou para a Torre dos Clérigos como um segundo pólo de grande interesse para fotografar a cidade. As fotografias seriam naturalmente muito diferentes das da Ribeira uma vez que o elemento humano, para nós sempre o motivo mais rico, desaparecia. Não se tratava de fotografar a  torre, já sobejamente fotografada, mas de colher imagens a partir da torre.

É impressionante a forma como varia a perspetiva da cidade à medida que vamos galgando os degraus da torre. No primeiro patamar ainda nos vemos na cidade mas olhando-a de forma diferente, através de janelas que nos propiciam magníficos primeiros planos obrigando apenas a cuidados especiais na exposição para equilibrar a luz dos diversos planos. Mas os motivos não se esgotam ao olhar o Porto.  Apesar do espaço interior ser exíguo os sinos proporcionam excelentes imagens, desde que a luz seja a adequada.

Continuando a subir começamos a pairar sobre a cidade e quando chegamos  ao último patamar e enquanto recuperamos o fôlego vamos desfrutando vistas ímpares e programando os pontos a fotografar. Fotografávamos  e programávamos a visita seguinte porque a imagem do Porto está em constante mutação ao longo do dia e ao longo do ano. Ter a luz ideal para concretizar um determinado projeto fotográfico é muitas vezes  obra de grande paciência, mas quando o projeto passa por obter imagens  a partir  do último patamar da Torre dos Clérigos  é de paciência e fôlego.  Porém a compensação aparecia quando podíamos mostrar  uma diferente perspetiva da nossa cidade, o Porto visto do ar.

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